Saturday, July 26, 2008

Encontro no seu desencontro...


Andam constantemente a vaguear pelas emergentes armadilhas dos pântanos, sobre fungos lamacentos, humidades desumanas, bichos estranhos e assustadores que os fazem perder o ar. Eles não sabem, disso aquela alma poderá sempre se defender, que a neblina é o pânico a invadir a sua alma, doce vento a circundar sobre a calada. Remotamente a névoa ficou mais forte, o alvoroço chamou por alguém que se encontra longínquo, audição habituada ao acontecimento soube bem distinguir os gritos sumidos vindos dos pântanos. No terror sentiu necessidade em ouvir as habituais asas brancas a entoar solos de salvação, aguarda com impaciência e deixa em liberdade todos aqueles rituais de nervosismo que constroem o seu ser.
Rompia a alvorada ainda repleta de negrura e as asas brancas percorriam as galerias da sua habitação, nunca soube o seu destino, seguia um instinto… talvez fosse esse o seu propósito, o destino de se encontrarem sempre naquelas ocasiões em que o desencontro emocional era bem mais forte do que tudo o resto…

26/07/2008
M.M.

Sunday, July 20, 2008

Juan Ramón Jiménez


Juan Ramón Jiménez nasceu em Moguer, no sul da Andaluzia, em 23 de Dezembro de 1881. O poeta ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1956, morreu a 29 de Maio de 1958.
Escrever sobre Juan Ramón Jímenez obriga a falar de modernismo: a sua poesia foi, no começo, influenciada pelo movimento e fez depois evoluir o modernismo espanhol. Assim iniciada, a poesia de Juan Ramón começou por obedecer às leis deste amplo movimento: um esteticismo de raiz romântica, predominantemente sentimental, em que o eu é quase sempre o centro do poema, com os seus lamentos, uma visão idílica da natureza, uma sensualidade difusa, paisagens que são reflexo do seu espírito inquieto e por vezes mórbido, da consciência que lhe revela a transitoriedade humana, o abismo da beleza inatingível indiferente a essa transitoriedade. No entanto, o trabalho de Juan Ramón - este ciente de que só a beleza poderia vencer a morte e que a sua própria morte só seria vencida quando ele completasse a sua obra - prossegue em busca da perfeição, entre avanços e repetições. A sua poesia era testemunho de uma profunda inquietação, uma sede terrível que nada poderia saciar, e que se fecha no seu ponto mais alto do conhecimento: o de um Deus por ele alcançado através da beleza que, através de uma luta obsessiva de toda a a sua vida, descobriu e revelou na poesia.

O Canto do Grilo

"As horas passam, serenas. Não há guerra no mundo e o lavrador dorme tranquilo, vendo o céu no fundo alto do seu sonho. Talvez o amor, entre as trepadeiras de um muro, ande extasiado, de olhos nos olhos. Os favais enviam para a aldeia mensagens de terna fragrância, como numa inocente adoloscência cândida e subtil. E os trigos ondeiam, verdes de luar, suspirando ao vento das duas, das três, das quatro horas... O canto do grilo, de tanto suar, perdeu-se...
(...) A Lua cai, vermelhusca e sonolenta. Já o canto está ébrio de luar, embriagado de estrelas, romântico, misterioso, profuso. É então que grandes nuvens lutuosas, debruadas de um malva azul e triste, arrancam o dia do mar, lentamente..."

"Platero e Eu"