Wednesday, March 07, 2007

"Numa Noite de Memórias"


"Era uma vez…
Uma família que vivia numa pequena aldeia, isolada da tela que pinta um cenário trágico mundial. Numa tarde fria de Outono respirava-se harmonia coberta pelos ares naturais que se espalhavam na atmosfera campestre. Na aldeia, coberta pelos montes o súbito silêncio foi interrompido pelos gritos de sofrimento provenientes da casa dos Queirós, espalhando ecos de uma mistura entre dor e alegria pela mãe Natureza, folhas secas caíram em celebração; naquela tarde a senhora Queirós dava à luz uma história marcante, uma lição de vida que vos contarei de seguida. Ouviram-se e sentiram-se gritos, choro de criança inocente multiplicado por dois que divinalmente encantaram a vasta linha silenciosa, novas vidas surpreenderam as pessoas; o vento parou em profunda bênção humanista, as nuvens descarregaram gotas imensas num processo de baptismo natural e instalou-se um sorriso grandioso nos céus, no caminho efectivo que os conduzia até aos momentos nocturnos, sorrisos que tomaram pela madrugada dois nomes: Gabriel e Tiago. Ao longo dos primeiros anos, os primeiros passos foram acompanhados pela vulgar inocência infantil o que tornou muito menos silencioso o ambiente, as ruas, as casas, uma fantástica cor era pintada dia após dia no papel melancólico de todas aquelas vidas, sentiam-se os sorrisos unidos das crianças e vibravam com as brincadeiras dos pequenos da aldeia. Por todo o lado eram visíveis os traços da irmandade, eram muitas as vezes em que os irmãos formulavam pactos de união entre ambos. Divagavam palavras em conjunto, derramavam lágrimas em comunhão no seu altar que se encontrava no cimo dos montes; da aldeia, a imagem da união entre aqueles dois seres estaria sempre evidente, seria relembrada para sempre na consciência de todos. Com o passar dos anos, a inocência diminuía gradualmente sem precedentes, tornaram-se adolescentes deixando para trás uma infância serena, entraram num processo juvenil de maturidade essencial, tudo se modificou… os irmãos que se identificavam por uma igualdade normal, começaram a demonstrar os seus traços verdadeiros e que efectivamente os iria acompanhar e definir ao longo das suas vidas. Nas calçadas das ruas o entusiasmo derivado da inocência desapareceu, o silêncio retomou a sua marcha imperial e cavalgou dia após dia, segundo após segundo pelas ruas desaparecidas; os habitantes trocavam no café da aldeia opiniões sobre os irmãos e rotulavam-nos de uma forma critica ao ritmo dos seus processos de crescimento. As diferenças entre os gémeos tornaram-se de facto enormes, uma oposição psicológica; se o Tiago era um jovem com tendências rebeldes, inconformado com a excessiva melancolia da aldeia, corajoso e destemido, já o Gabriel tornou-se num jovem sereno, humilde, adepto da natureza e da plenitude da calma."

Argumento teatral "Numa Noite de Memórias"
Marco Martins

P.s: Peço a todos os leitores as minhas sinceras desculpas pelo tempo de paragem... Como compensação fica uma pequena amostra da primeira peça que escrevi... Um desafio: Imaginem duas vidas, criem a vossa história... em breve dar-vos-ei a conclusão...

2 comments:

Catarina said...

Os traços da infância aos poucos desaparecem e outros, bons ou maus, renascem em nós.

É pena as ruas da aldeia terem ficado outra vez em tons de preto e branco.


Gostei mt da história** =)

n. said...

Um nascimento que até a Natureza sentiu, ouso dizê-lo pela forma como escreveste.
E a infância, tudo o que nela se vive, acaba por ser mais uma etapa... a primeira, talvez a mais marcante e a que possa ditar aquilo que seremos ao longo da nossa vida. Pena que muitas vezes se percam coisas que nela existiram; pena que essas coisas deixem de existir até na nossa memória...

Mas gostei da maneira como criaste a união dos gémeos em pequenos, o que fazia com que parecessem parecidos, e o modo como "cada um tomou o seu rumo" quando cresceram.

Gostei muito! *