Estava numa noite onde a inspiração desaparecera, os sons irritantemente afastavam a energia relevante dos seus pensamentos e as ideias permaneciam estaticamente desesperadas. A situação não lhe era de todo favorável, as suas expressões iam progressivamente exibindo um certo desespero à medida que o tempo se ia acumulando na progressiva escuridão da madrugada. Por momentos resignara-se, a desistência era obviamente o caminho mais fácil, talvez não o mais seguro… Desviara as letras, palavras das linhas das páginas que infindavelmente olhava sem grande utilidade.
Palavras riscadas, prescritas de nada… deixaram de existir…
Enfim acomodou-se no manto dos seus ternos confortos e fechou os olhos, a sua realidade desvanecera-se, agora tudo não passavam de sonhos projectados longinquamente da sua necessidade. As cores estavam distorcidas, mas reconhecidas, havia ares de uma ausência sempre presente que o reconfortava. O sonho acabou na efemeridade… desejava algumas réstias de imaginação na sua realidade. Quando os seus olhos se abriram as cores distorcidas haviam sido consumidas pelo esquecimento… Nada ficou para recriar.
A inspiração não tinha regressado à sua mente, tornara-se impossível canalizar toda essa energia num simples torrão moderno de carvão…
Sentado nos seus aposentos revia todas as imagens que a bola de cristal lhe transmitira, deslumbrara um reino encantado, um escritor desinspirado, um homem dedicado acompanhado de um feroz animal de estimação, um cacto bem tratado respirando a gélida contaminação da temperatura e uma princesa no topo abençoando cada um dos seus…
As imagens tiveram sempre na sua presença e na medida dos possíveis escreveu o seu pequeno texto: “A ausência da presença nas submissas leis da saudade”.
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