O seu olhar era
imaculado, transparecia um misto de doçura e ira a flutuar no seu profundo
oceano visual. Nos seus olhos surgia um paraíso de águas límpidas retocadas
exoticamente em redor por um suave azul-marinho. Mas nessa ilha tropical, onde
cerca de três quartos de mundo desejava residir, pelo menos num certo traço
temporal de vida, ela sentia-se amarguradamente sozinha, apanhando o sol da
manhã, protegendo-se da rigidez do calor da tarde, onde desfrutava de um
cocktail de tantas emoções, com especial predominância para o intenso sabor a
solidão… Ao fim do dia, no despertar da noite, retorquia pensamentos esperando
o despertar de um céu com tantos pontos incandescentes. A noite instalava-se ao
ritmo das pegadas que ia marcando naquele areal, parava por instantes,
debruçava-se sobre o mundo e procurava as constelações que dois quartos de
mundo reconhece… A meio do seu curto, mas tão longo, passeio, a brisa da
madrugada se erguia, carinhosamente suspirava sobre o seu corpo e a sua pele
respondia, sob arrepios, com a pergunta de quem a aconchegaria nos momentos que
se seguiam. Aqueles actos nobres e inexistentes, mas ainda frequentes na
memória de pelo menos um quarto de mundo. O seu passeio terminava, chegava à
sua cabana solitária, revestida de uma madeira local e de breves engenhos, a
voz da necessidade comprometera-se com a utilidade, mas a resignação ao momento
bastava-lhe. Lá dentro, entreabria a portada, não saberia viver sem escutar,
até adormecer, a voz dos seus olhos azuis marinhos…
M.M.
No comments:
Post a Comment