Helena saiu às ruas alastradas pelos ventos fortes que arrastavam consigo as poeiras vindas de Tróia, deu-lhes o nome de guerra celebrado em brindes clássicos de vitória, as paredes sorriam-lhe e saudavam calorosamente a sua passagem. A rainha ia cantando todos os séculos das suas sagradas lembranças e façanhas abençoando cada uma das suas descendentes, entregando-lhes amor maternal, se a diva lhe prestasse a devida homenagem nos cantos mais frequentados da sua memória.
A história prossegue as indicações normais e a estrada leva-nos ao encontro das suas preces... Assim surges pedindo a aflitiva "bleia"neste nosso cavalo de Tróia, a nossa tripulação observando os teus olhos revê em ti mais uma aliada, sobes os degraus que os nossos braços te estendem e ocupas o teu lugar, prossegues a nossa viagem, trazes contigo a tua sabedoria divina, e mal sabíamos nós que as raízes da rainha sentavam-se de novo nos comandos desta travessia, nem sabíamos que era sua progenitora... Lembro-me daquele dia como se de hoje se tratasse, consigo-o desenhar nas paredes fortificadas que nos protegem dos horrores que lá fora se vivem, vou contar-vos a imaculada nostalgia a penetrar as muralhas dos vossos corações, não admito receios são tempestades que nos arrasam de bondade... Lembro-me como se fosse hoje o silêncio timidamente a corromper-se sem sequer se prenunciar desejando acumular toda uma paz invulgar rendida a todos os seus encantos; as primeiras palavras frágeis, timidamente transmitidas como naqueles tempos em que éramos crianças inocentes e percorríamos num cuidadoso silêncio o caminho para o templo de Zeus numa caminhada em honra das virgens protectoras. Mais tarde recordo os espíritos unidos a abraçarem-se amistosamente entre o secretismo do misterioso cavalo de madeira, assim se formulava em definitivo a colectividade das tábuas erguidas e unidas que têm vindo a percorrer as estradas da "Magna Grécia" em direcção à possível derrocada de Tróia.
Neste cavalo todos éramos história e respirávamos sopros de realidade, escrevíamos pensamentos no ar, lascávamos a madeira criando os nossos quadros marcando-nos na eternidade histórica... Em outros momentos haviam mesas redondas onde se discutia pelas noites sob o zumbido inquietante dos insectos incómodos que lá fora tentavam penetrar as nossas muralhas defensivas, ignorando todos os sons os raciocínios prosseguiam lestos e rapidamente se fundiam entre nós, sempre lhe disse que preferia dádivas a burocracias... Ela pediu-me sátiras, eu simplesmente parei e estatelei-me lá bem no fundo num vago murmúrio sonolento, levantei-me mais tarde quando o murmúrio se dissipou entre todos nós, e agora nestes momentos tranquilos vos conto neste rasgo de nostalgia o percurso da nossa amizade.
Recentemente... Chegamos a todos os lados e vencemos imóveis, sem armas, nem gritos... julgavam-nos monumentos e criticavam-nos por incompatibilidades nos seus gostos artísticos e nós íamos retaliando em vagas daquele silêncio corrompido e todos se ajoelhavam prestando vassalagem à tua artimanha. Na verdade nunca pensámos deslocar-te até Tróia... Princesa helénica viemos neste cavalo passar as nossas vidas a rodar o espaço divino de Hellas, conquistar sabedorias, pensamentos e aliados que nos dêem uma viagem com mais proveitos e conclusões, por fim, talvez um dia Tróia se encontre diante dos nossos olhos e a dignificante vassalagem se arraste a teus pés...
Agora preparemo-nos todos para mais uma viagem, em frente gera-se o movimento dos rolamentos das nossas vidas.
De um castelo a sobrevoar os ares para uma terra de cavalos tróianos...
M.M.
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