Friday, April 28, 2006

Ensaio 1: Profecia!


"Imagina... que todo o mundo se absorve a si mesmo, percorres um caminho no meio do nada e ninguém se intromete nos teus passos profundos diante da imensidão desconhecida, segues sem receio na esperança que o sorriso seja um cenário realista e que a tormenta do passado fique para trás. Muito, bastante e definitivamente longe do rasto dos teus passos curtos e lineares... Segues em frente com a ambição desmedida de cantares vitória em glória da tua felicidade, a meio do percurso encontras uma enorme rocha cinzenta e pálida como a tua vida e sentas-te no topo da mesma como se aquele fosse o teu trono imperialista, e descansas na amargura da solidão... vives o silêncio frio, calculista e pensas no passado, no presente e no sonho futurista... desprezas a realidade, a verdade, porque um sonho é, e será sempre a obsessão que te servirá de bandeja reservas ilimitadas de tristeza... mas uma réstia de sonhos perdura dentro de ti, fechas os olhos e vês o sonho escondendo a supremacia realista, idealizas uma batalha, duelo esse que o sonho irremediavelmente vencerá categoricamente, a realidade cairá no chão como uma folha de Outono, lentamente... tristemente... velha e sem forças que a possam suportar, dar-se-á como derrotada, pura ilusão de um caminhante sonhador... a ilusão dá-te inesgotáveis forças para encarares a grandeza do rochedo e continuares o caminho solitário, sonhando com as travessias que invariavelmente te condenam a uma angústia desmedida, ao desprazer de viver sem um significado, sem uma definição pura, clara e evidente daquilo que és... O caminho continua a ser traçado na poeira constituinte da estrada da vida; o vento sopra em direcção contrária, como sinal de aviso, precaução, num aviso permanente de calculismo... e vai apagando os passos reais; os teus olhos ficam vidrados num pensamento sonhador e nem a poeira que se arrasta no ar te faz parar de criar efeitos e novas visualizações da ilusão em que vives. Passam-se segundos, minutos, horas, dias, meses por vezes até anos até que a realidade se levante, intrometa, e renasça de novo na árvore que antes a tinha derrotado sem qualquer tipo de macua, sem piedade e compaixão...; de uma forma estranha paras no meio da nada... num deserto exaustivo e rancoroso, revês os longos traços infelizes que criaste durante um tempo efémero, sentes as reservas de tristeza a desabarem compulsivamente na tua mente de uma forma inevitável e ficas imóvel. Passam-se horas e ficas no mesmo lugar, o teu mundo é um vazio de sinónimos, de sensações, actos... procuras incessantemente pela paz, pintas o mundo de uma forma diferente, procuras sons que te libertem da calamidade momentânea; Escutas as ondas de um mar distante, um eco de harmonia, sentes a sombra da árvore que um dia derrotou a tua percepção real de toda uma vida passada, que hoje te devolve a magia de viver o momento com a devida ponderação mental. A lágrima é a tua salvação, ergues a cabeça com firmeza, os teus olhos brilham, a lágrima surge, percorre os traços do teu rosto e cai lentamente sobre o chão onde caminhaste em círculos indetermináveis de tortura, loucura ao longo dos últimos tempos... abrem-se fendas no chão, a tua lágrima envolvera um peso de tristeza que o teu mundo imaginário não suporta, lágrima após lágrima, fenda se expõe, até que uma se alarga por baixo dos teus pés e cais no mundo real, voas de um mundo triste com uma ilusão peremptória de felicidade, para um mundo realista... onde o sol brilha radiante durante o dia, e a lua se expõe brilhante e atraente durante as noites... e a vida continua... seja lá a realidade em que vives, constróis e caminhas... sopra e afasta as nuvens negras, deixa que a tua lua te ilumine a ti e aos outros, deixa que o teu sol te aqueça a ti, aquele e ao outro, vive o que tens diante dos teus olhos, não o que a tua mente suscita... "

26 de Abril de 2006
Marco Martins