Monday, July 30, 2012

Milan Kundera in "A Insustentável Leveza do Ser"

"The heaviest of burdens crushes us, we sink beneath it, it pins us to the ground. But in love poetry of every age, the woman longs to be weighed down by the man's body.The heaviest of burdens is therefore simultaneously an image of life's most intense fulfillment. The heavier the burden, the closer our lives come to the earth, the more real and truthful they become. Conversely, the absolute absence of burden causes man to be lighter than air, to soar into heights, take leave of the earth and his earthly being, and become only half real, his movements as free as they are insignificant. What then shall we choose? Weight or lightness?"

Milan Kundera in "The Unbearable Lightness of Being"

Friday, July 27, 2012

"Os melhores Beijinhos", Joanna Walsh

Acreditem... isto é mágico e vem na continuação do tema "livros para crianças". Notícias dão conta da insolvência da Civilização pelo que há certas coisas que podem tornar-se raridades. 



"Todos precisamos de beijinhos, por isso haverá coisa melhor do que um livro cheio deles?
Um livro repleto de ilustrações e frases engraçadas que incentivam o desenvolvimento afectivo das crianças."

Ainda de Joanna Walsh aparece nas estantes mais um incentivo especial para animar os corações da pequenada. "O Abraço Perfeito" é também ele ilustrado por Joanna Walsh e Judi Abbot.



"Todos nós gostamos de abraços e este livro tem abraços de todos os tamanhos e feitios… Há abraços para namorados e abraços para traquinas. Abraços que surpreendem os aluados e abraços que picam tanto que nem imaginas… Mas irás tu encontrar o abraço perfeito? Claro que sim! Como este livro diz, o abraço perfeito está mesmo debaixo do teu nariz!"

"Pois é, o Panda estava insatisfeito e andou pelo mundo fora à procura do abraço perfeito. Experimentou quem dava abraços grandes, pequenos, apertados, fortes, suaves, de quem tinha muitos braços, como a aranha, e até de quem não tinha braços, como o caracol. Mas nenhum o satisfez. Voltou a casa e aí encontrou o abraço perfeito."


Parece que todos devíamos ouvir estas histórias... talvez não houvesse tamanho desperdício. 

Friday, July 20, 2012

As Paixões Humanas, Nicolau Gogol

Eu considero inteligente o homem que em vez de desprezar este ou aquele semelhante é capaz de o examinar com olhar penetrante, de lhe sondar por assim dizer a alma e descobrir o que se encontra em todos os seus desvãos. Tudo no homem se transforma com grande rapidez; num abrir e fechar de olhos, um terrível verme pode corroer-lhe as entranhas e devorar-lhe toda a sua substância vital. Muitas vezes uma paixão, grande ou mesquinha pouco importa, nasce e cresce num indivíduo para melhor sorte, obrigando-o a esquecer os mais sagrados deveres, a procurar em ínfimas bagatelas a grandeza e a santidade. As paixões humanas não têm conta, são tantas, tantas, como as areias do mar, e todas, as mais vis como as mais nobres, começam por ser escravas do homem para depois o tiranizarem.
Bem-aventurado aquele que, entre todas as paixões, escolhe a mais nobre: a sua felicidade aumenta de hora a hora, de minuto a minuto, e cada vez penetra mais no ilimitado paraíso da sua alma. Mas existem paixões cuja escolha não depende do homem: nascem com ele e não há força bastante para as repelir. Uma vontade superior as dirige, têm em si um poder de sedução que dura toda a vida. Desempenham neste mundo um importante papel: quer tragam consigo as trevas, quer as envolva uma auréola luminosa, são destinadas, umas e outras, a contribuir misteriosamente para o bem do homem. 

Nicolau Gogol, in "Almas Mortas"





Wednesday, July 18, 2012

Mais um comboio a passar...

Vamos dialogar um bocadinho pelo menos tu és capaz de levar-me a sério, aceitar as minhas palavras e ir marcando-as no mundo. Vamos executar palavras, removê-las da história da gente, remetê-las a um novo endereço; vamos correr o mundo, ouvir uma nova voz, novas histórias, novos horizontes. O último está gasto, quebrou-se, corrompeu-se. Vamos directos ao assunto: eu sentei-me naquela tarde sobre o mar e falámos com clareza sobre denominados diálogos... parece que chegámos a um ponto de interesse em que revimos os mais ténues murmúrios, analisámos situações e de uma conjuntura de preocupação senti-me em paz... fiz tudo e mais algum, não há nada a temer. A verdade parece que custa, pagamos a preço de ouro mas dada gratuitamente parece que gera confusão, lamento. Mais um comboio a passar... 

Sunday, July 15, 2012

Crime a Castigo, Fiódor Dostoiévski

A coleguinha sorridente andou um mês a desatinar-me a cabeça porque não comprava nenhum livro na loja e eu pensava nas dezenas de livros que tenho, ainda, para ler nestas estantes que se encontram ao meu lado esquerdo. Lá conseguiu convencer-me e parti para mais umas horas de amizade com o meu grande amigo Fiódor Dostoiévski (a escolha vai alegrar os muitos russos que por aqui caem por acaso). O livro é intenso desde a primeira página e logo nas primeiras páginas o génio russo partilha comigo algo muito verdadeiro. É surpreendente como um pensamento de 1866 possa ser tão actual e adequado. 



"Quero ousar uma coisa dessas, e estou com medo de ninharias! - pensava, com um sorriso estranho nos lábios. - Humm... pois... tudo está nas mãos do homem, e o homem deixa que tudo lhe fuja à frente do nariz, só por cobardia... é um axioma...  Não era curioso saber do que têm mais medo as pessoas? De um passo novo, de uma palavra nova própria, é esse o maior medo delas... Aliás, palro demais. Tagarelo, por isso não faço nada. Ou então: tagarelo porque não faço nada. Neste último mês ganhei o hábito da tagarelice, deitado dias e noites no meu canto, a pensar... na história do rei pasmado. Porquê, para que vou lá agora? Se ao menos for capaz de fazer aquilo!? Será mesmo a sério, aquilo? Não, não é a sério. Ando a entreter-me com uma fantasia , uma brincadeira! Sim, isto é mais uma brincadeira!"

Fiódor Dostoiévski in "Crime e Castigo"

Friday, July 13, 2012

Kings of Convenience & Royksopp - I Don't Know What I Can Save You from

Apaixone-se, imortalize-se, sinta na pele... porque é bom demais.


"You called me after midnight...
it must have been three years since we last spoke.
I slowly tried to bring back
the image of your face from the memories so old.
I tried so hard to follow,
but didn't catch a half of what had gone wrong,
said "I don't know what I can save you from".
I don't know what I can save you from.

I asked you to come over,
and within half an hour,
you were at my door.
I've never really known you,
but I realized that the one you were before,
had changed into somebody for whom
I wouldn't mind to put the kettle on.
Still I don't know what I can save you from.
I don't know what I can save you from."

Monday, July 09, 2012

O livreiro feirante (Última página)

Tenho pouco a dizer acerca do encerramento desta primeira etapa como livreiro expositor mas trago para casa mais algumas recordações, umas boas, outras menos positivas. Os meus pés começaram, a duas horas do encerramento, a pedir uma total insolvência, os dedos resmungavam, a alma adormecia, os clientes desapareciam, o silêncio começava a predominar. Final. Hoje mais uma criança conquistou-me, a pequena Margarida de olhos da cor do mar e com os seus 20 meses fugiu e escondeu-se atrás da prateleira da culinária e por lá refugiou-se na sua vergonha. A mãe perguntou-lhe porque tinha ela vergonha do senhor dos livros, ela manteve-se calada... De saída do expositor a mãe disse "olhe apaixonou-se", a pequena virou-se, disse-me adeus e mandou beijinhos e o senhor dos livros sorriu. As crianças na sua inocência são de facto maravilhosas e o senhor dos livros achou aquilo tão terno e não deixou de pensar que estaria ali um belo "arranjinho" para o meu Afonso. O pequeno faz hoje três meses e já ando a tratar de arranjar-lhe um par. 
Uma senhora chegou a 5 minutos do encerramento vinha com um perfume gasto e pouco apetecível ao meu olfacto, pode ter sido essa a razão para me ter dado este ataque alérgico... A senhora veio falar ao livreiro, o livreiro cordialmente cumprimentou-a... a senhora disse "ah vim de propósito para buscar este livro ("Arrisca-te a Viver" de Gustavo Santos)" e o livreiro pensou "oh podia ter vindo por algo melhor". A senhora ficou escandalizada pois o livro já não estava em promoção então, contornou e começou a regatear "Olhe pode fazer-me um desconto de 5€?" o livreiro estagiário pensou "Para além de perturbar o meu olfacto, de escolher algo pouco apetecível para o meu gosto literário ainda vem pedir um desconto?", "Peço imensa desculpa mas isso não é possível." a senhora resignou-se, pegou no livro e voltou a colocá-lo na prateleira umas 10 vezes... sim, tive oportunidade de contar... e, no entretanto, não levou o livro, abandonou o local e desapareceu. Final! "Estávamos encerrados".
Depois do fecho de feira fui conhecer a grande conquista de um grande amigo, "ah que bom, conquistou uma sorridente", pensei, é, de tal forma, maravilhoso quando se vê algo grandioso, compartilhado e romântico. É encantador sentir aquelas boas energias a saltitar em nosso redor... sinal que podemos continuar a acreditar mas é, acima de tudo, gratificante ficar feliz pelos outros sem o dizer da boca para fora. E então dei-me conta, ele conquistou uma sorridente e que bom que é vê-los a sorrir como ninguém.
Amanhã é outro dia e saberemos por lá que sorrisos ou tristezas o livreiro encontrará, o tempo acabará por dar-nos a resposta seja ela sorridente ou tristonha mas ela surgirá, o tempo não perdoa e responde. As perguntas são para ser respondidas por mais banais que sejam e é dessa forma que deve ser porque afinal de contas o estagiário dos livros não gosta de palavras em vão.

Thursday, July 05, 2012

Santa Cruz, o reconhecimento


A prestigiada revista e site espanhol de viagens CondéNast Traveler / traveler.es elegeu a praia de Santa Cruz como uma das melhores 50 praias do mundo. Soubemos disso na tarde de ontem e foi-me bastante útil para a noitada no mundo dos livros. Duas senhoras foram ontem à livraria na procura do livro "Tanto Mar" de Pedro Adão e Silva e João Catarino, um livro lançado no passado mês de Junho e que conta a aventura de dois amigos que percorreram o litoral de Portugal descrevendo a sua passagem pelas praias portuguesas. As duas senhoras ficaram encantadas por ver a sua terra no tal livro e não podia deixar de partilhar as boas novas, elas ficaram contentíssimas mas uma não pode deixar de comentar "Não sentiram eles aquela nortada, se sentissem, talvez não nos tivessem colocado nessa lista." ao qual amigavelmente retaliei "Já faz parte da terra, quem lá está já se habituou, quem vem ao desconhecido acaba por, também, se habituar e, de certa forma, desfrutar." Não custa nada promover um bocadinho a minha terra.

"La bella playa de Santa Cruz, a tiro de piedra de Lisboa

Sanidade

Tenho enormidades de loucura a roçar na base dos meus pés, fazem-me cócegas, dá-me tanta inquietação, tenho pois um corpo a balançar-se num precipício de interrogações, não me toques mais, não me faças tanto rir que de tanto gargalhar, farto-me... esta sensibilidade é densa, profunda e essa desestabilização custa-me alguma sanidade mental.

Monday, July 02, 2012

Primeiro mês, o renascer.


Ver o meu sobrinho (o mais lindo deste mundo) a crescer é numa breve e solitária palavra: maravilhoso. Se ele não fosse tão inocente e pequenino gostaria de ver também o seu tio a crescer. Como ainda parece distraído quando lhe falo das coisas sérias conto-te a ti um bocadinho da magia do renascimento... O meu primeiro mês terminou ontem, a aventura de livreiro está bem e recomenda-se e está para durar, pelo menos assim o espero. Neste fim-de-semana os meus pés desgastaram-se, reclamaram, proclamaram sossego, alguma paz... tais foram as horas em que os mantive a pressionar a Terra. Nesta feira anual da região a Livraria Bertrand estreou-se com um expositor, digamos que o sucesso está longe de ser o esperado mas a nível individual fez-me crescer mais um pouco. Ando a assentar as bases, quem diria que há um mês atrás eu  trabalharia numa livraria, falaria com um cliente com dinâmica, sem medo, olhando-o dos olhos e de uma amena cavaqueira acerca de uma temática não específica chegássemos ao senso comum? Tenho crescido, vivido, assumido mais responsabilidades, conhecido novas caras e de repente começo a perder as tão proclamadas "janelas killer" que o caríssimo Augusto Cury tanto retrata em "O Código da Inteligência". Digamos que o conceito em si está bem definido mas não foi por ler 30 páginas do livro que me libertei de uma certa parte da fobia social, na verdade estou disposto a doar o livro, alguém aceita? Não envio para os Estados Unidos da América, Rússia, Brasil... ora bem talvez fique aqui em casa a baptizar-se com alguma poeira. Outra das coisas maravilhosas destes dias foram os múltiplos sorrisos das crianças, a literatura para os prematuros tem muito que se lhe diga, tem qualquer coisa de especial e mágico, as ilustrações, as palavras simples, mas bonitas, conseguem encher o mundo de uma nova esperança, as crianças soltam sorrisos e dividem-os com os livreiros, os sorrisos são nossos, os sorrisos são deles. É encantador e lembra-me mais uma vez do "meu" pequenote, e conta-me a história de um futuro de "Era uma vez um livreiro preguiçoso e que um dia ganhou um poder, tornou-se um sublime contador de histórias, manteve-se um sonhador. Do seus sonhos rabiscou realidade, abriu os olhos e tornou-me seu, eu era pequenino, estava nos braços de uma mulher maravilhosa e o meu pai chorava de alegria. Desde esse dia somos fortes, unidos, amigos, cúmplices, família". Um dia, serei papá e serei, definitivamente, babadíssimo e crescerei mais um bom bocado mas nesse dia o meu Afonso irá perceber que o seu tio estará ainda em fase de crescimento. Vai perceber, também, que o seu tio ganhou o poder de escrever na sua vida uma conexão entre pai e filho que vidas atrás inexistira na sua vida. Este jogo das mutações é divinal, os sonhos persistem e o coração é sempre demasiado mole.

Eu.