Friday, November 19, 2010

Dia de retornar, dia de reviver, de relembrar...

Relembro-me como se fosse hoje, daquele dia em que caí aos trambolhões sobre aquele manto de gritos inusitados e desesperados de alguém que chamava por mim. Mais uma vez deito-me sobre este colchão de palhas estridentes que me embrulham e protegem da noite gélida e fazem-me esquecer, um dia, o quão dolorosa foi a tua morte e o tanto que faltou por dizer e dos abraços que ficaram por dar. Relembro-me como se fosse hoje... "Aquele era eu em criança sentado numa varanda de um 3º andar, numa rua bem silenciosa com murmúrios vindos do mar. Aquele era eu compenetrado numa linha de horizonte onde nada de deslumbrava diante da escuridão da noite. Aqueles eram os meus olhos enfeitiçados numa espécie de buraco negro enfeitado por momentos, movimentado por uma roldana de pensamentos que se soltavam e deixavam-me entre pensamentos banais e outros bem mais fulcrais. Aquele era eu a distrair-me do tempo, a suspirar desgostos e amarguras, a pensar vezes sem conta como chegar até ti. Quando à uns anos atrás deparei-me com um desses momentos reflecti de forma apreciativa acerca do tempo invisível que dispensava para manter-me ocupado na actualização democrática do pensamento. Com os anos vinha mantendo uma séria esperança que esse serviço fosse, gradualmente, diminuindo em curtas facções mas, durante os intervalos temporais fui-me apercebendo, em rápidos pensamentos, que a diminuição era improvável e que tendencialmente poderia tudo aumentar. Um dia destes dei-me a pensar, não exigi qualquer contrapartida, basicamente limitei-me a pensar... Lá ao fundo estava o horizonte pintado num oleado azul de mar a marcar todos os desníveis entre os algoritmos de auto-estima, eles chamavam-me e puxavam-me para as correntes turbulentas do medo. Eu pávido deixei-me ir embalado naquele mar, afogando-me cada vez mais naquele buraco negro e mais uma vez só cheguei a pensar, mas dizer, não disse nada. Afinal de contas ainda era uma criança..."