Monday, October 29, 2007

Silêncio: Um breve Aparte

Ao silêncio que nos acolhe:
Sempre me apeteceu fugir deste lugar, mas hoje apetece-me ficar.
"Há ocasiões em que o silêncio de uma pessoa torna-se mais sábio do que qualquer palavra que poderia ser pronunciada."
Ficar e tornar-me importante nas vossas vidas, deixar-me estar e dar-vos a mão, permanecer e contar-vos a minha presença, criar raízes e consagrar-me nos vossos corações.
Rabi Levi Yitschac de Berditchev disse: "Duas coisas aprendi de meu mestre durante a última visita que lhe fiz: Quanto menos a pessoa fala, mais perto está da santidade; e o único ato bom que é valioso é aquele sobre quem ninguém sabe."
Fico pela vontade dos 3x... Em breve vou contar-te a maravilhosa história dos 3x.
"Falar é prata, mas o silêncio vale ouro."

Porque nem sempre as palavras são ouvidas, nem sempre as mesmas têm que ser reveladas ao mundo. Os sábios saber-me-ão escutar...

Firewall's da Vida!

Houve um grito desde as profundezas perdidas:

Quem está aí?”

“Sou alguém que nunca viste, alguém que sempre viveu por cá mas que as tuas protecções nunca me deixaram soltar a voz, sou anos de sorrisos magníficos, sou o que procuras quando caminhas sem rumo nessas estradas que tu constróis na tua inconsciência, vem dar-me a mão com convicção, rompe essas malditas protecções, essa teia que tantos quiseram ver erguida, não deixes que as trevas cantem vitória, vem e embala-me como uma criança…”.

E o grito desapareceu por entre tantos ecos que permanecem em quarentena nas masmorras dessa triste firewall.

Um voluntário da vida deixará a sua firewall ser invadida pela triste ira das trevas? A resposta é clara e decidida, que seja retida a ira das trevas porque eu quero ter segurança nos meus passos.

Desejo incontestável de formular as minhas pegadas sobre as vidraças cristalinas que abençoam todos estes mares… Dar-me-ás permissão? Abre essas comportas invisíveis, deixa que os nossos belos e verdadeiros sonhos de criança sejam concretizados, deixa que os sorrisos nos invadam, deixa-nos viver, solta-nos das tuas amarras endiabradas onde nos deixas enclausurados. Quero ser embalado até amanhã, sentir a liberdade do vento gelado a embater-me na face sem pedir uma prévia autorização, vai ser amanhã… vais expirar, vais dar-me tréguas, deixar-me respirar bem fundo. Depois voltarás…

M.M.

Friday, October 26, 2007

"Hoje morro, amanhã ressuscito"


Filho das sombras da noite que se arrasta através da brisa suave da madrugada. Será anjo ou demónio? Será anjo, para os outros não sei; e de que lhe importa os outros se ali está sozinho? Esconde-se pelo silêncio triste que enche por completo a noite, contagiado pela dor que o frio lhe entrega, resignando-se: “Hoje morro, amanhã ressuscito”.
Morre pela gelada madrugada que lhe petrifica o coração, deixando de sentir o seu pulsar, desvanece-se e entrega os seus sentidos a uma terra fria e crua que sem remorsos não os recusará; nem as asas discretas lhe servem de salvação, foram-lhe cortadas para a peregrinação na Terra… descansa sobre o luar. Ressuscita pela manhã, onde o sol já bem no alto entrega-lhe algum do muito brilho que lhe falta, abre os seus olhos e espreguiça-se num turbilhão de emoções, mete-se na estrada e desaparece sem rumo.
E se não ressuscitar? A resposta será clara e directa: “Desapareceu, tornou-se invisível, apagou-se da história da noite, obtendo o seu fim.
M.M

Tuesday, October 23, 2007

Någonsin hit. Ty fadder av min hjärta.

Sente um dilúvio de sensações, perde-se nos mistérios, nas complicações que a vida trata de lhes presentear sem pedir licença, nada pediu e foi-lhe entregue tanta dor. Colocam-no num labirinto perdido, um infinito de paredes iguais, todas da mesma cor onde vagueia sem parar, sem descobrir uma saída que o liberte da angústia de estar perdido nessa encruzilhada mental. Vê uma porta entreaberta, o espaço é pequeno e entra transformando aquele lugar no seu refúgio silencioso; agarrando no seu bloco de mistérios, pegando na sua caneta, vai escrevendo capítulos dos seus dias e deixando-os diante de todas aquelas cruéis paredes brancas. Ninguém chegara para ler os testemunhos, ninguém entrara naquele jogo de saturação, passavam os dias e acumulavam-se as palavras, até que desistiu… juntando-se ao silêncio através das suas palavras.

“Questionar o silêncio profundo, sobre o vazio do meu olhar não há-de ser uma fórmula de grande sucesso para me libertar da prisão dos meus sentidos. É sim, um sufoco desesperado, um processo de execução sem estratégias seguras, mas que me condenam e identificam a porta ao qual não devem bater.

Será que chega alguém? Soltem os vossos passos rápidos, que eu estou à espera!”

Adormecendo…

Horas e horas e mais horas, escutam-se passos revoltados no seio de um eco incomodativo, os seus olhos abrem-se lentamente, e escuta a quebra do silêncio magistral. Parou bem perto da porta, ouvia-se o barulho do papel numa troca intensa de páginas. Bateram à porta de forma terna, esta abriu-se lentamente, acompanhada de um fino ruído que só se dissipou quando se expôs na sua totalidade. Os seus olhos transmitiram-lhe confiança, segurança e levantou-se sonolento e exausto, rompendo o silêncio disse: “Os teus olhos dizem-me aquilo que és, o que vês em mim, aquilo que buscas incessantemente sem saberes o seu propósito, a ajuda que necessitas para arrancar as tuas fraquezas e tudo aquilo que aos teus próprios olhos já não faz sentido, afinal de contas estás aqui não só para salvar-me, estás aqui para ser salva, para que olhes e vejas o que de precioso o teu reflexo te transmite”. Os dois caminharam numa rumaria sem destino e foram-se conhecendo pelo casual silêncio dos tempos, desenvolvendo as claves mais harmoniosas da amizade.

Chora, fala, grita nos meus braços… não tenhas medo, é a chave para sairmos desta encruzilhada onde a vida nos colocou.

Någonsin hit. Ty fadder av min hjärta.

Saturday, October 20, 2007

Comunicado da Lua

A lua eclipsou-se nas profundas águas do atlântico, despedindo-se em tons de um laranja seco e apagado, estávamos cansados. Sentimos que o mundo precisa de algo soturno esta noite, baixei a grua e tudo se apagou... hoje vamos deixar o planeta a murmurar pensamentos e sensações de saudade, vamos descer aos confins da escuridão e esperar que perguntem com um tom de voz bem alto"porque não me acompanha hoje o sorriso da lua?"... hoje vamos sentir a nossa importância no seio da humanidade, realçar a identidade do nosso brilho, questionar todas as mentes que têm o poder de olhar e conhecer-nos lá bem no alto, o que seriam sem a nossa presença? Vamos fechar os olhos e sentir-nos mais sozinhos, só por umas horas... mas horas importantes. Quando a luz se apaga muitas mentes se perdem na escuridão, mas esse não será o nosso objectivo... queremos sim, revelar o nosso valor, esclarecer a nossa importância para que não se percam nas vossas vidas!
Mesmo nos confins, lá bem escondida no tumulto... A luz continua acesa! Fez-se silêncio nesta noite.
M.M. (Cavaliere della Luna)

Wednesday, October 17, 2007

Metade de mim adora-me, metade de mim odeia-me...

Anoiteceu, a lua brilhava com supremacia no seu altar longínquo e cá em baixo alguém devorava-a com os seus olhos, orando as suas preces. Eram poucas as palavras, eram poucos os movimentos, os seus olhos brilhavam como um sol madrugador e ia derramando lágrimas que saiam continuamente entoando pedidos de salvação. A salvação saltou dos céus, voando embalada pelos ventos que sopravam levemente e calmamente surgiu ao lado de alguém, sentando-se na areia molhada de costas voltadas para a sua luz. E questionou…

“Porque te escorrem essas lágrimas de angústia? Porque aclamou pela minha vinda?”. Alguém, olhou à sua volta e sentiu que não se encontrava sozinho, tinha sido ouvido e mesmo que os seus olhos nada vissem, respondeu: “Seremos sempre grandes almas, seremos sempre um desejo profundo, serei sempre alguém que ninguém busca, sentiremos sempre um enorme vazio por preencher, somos imagens pintadas por seres humanos em contos de fadas, somos reflexos de memórias perdidas que pairam no ar como folhas de Outono em dias de temporal, perdidas…Sente o pulsar da minha vida, consegues sentir a pureza dos meus actos? Consegues absorver a mágoa que corre emaranhada no meu sangue? Descobre-me a paz que me levou a mente numa viagem longínqua até lá cima, leva-me contigo sobre as ondas deste mar agitado que nos envolve”. A salvação entoou coros e saltitou pelos céus, “segue-me, vou-te mostrar que o mundo lá de cima é bem mais bonito, e podes respirar o teu silêncio em comunhão com a paz”. O vento os transportou, numa viagem rápida onde os cabelos frenéticos se soltaram, rodopiaram dançando na atmosfera… “Chegámos, diz-me o que sentes” disse a salvação… “Consigo respirar sem soluçar, consigo olhar para baixo sem sentir uma vertiginosa corrente que me prende, consigo andar sem temer o próximo passo. É a luz que me preenche! Quero ficar e dizer adeus a todos cá de cima, quero guarda-los a todos no meu interior, sente de novo a pulsação… que ouves salvação? “ Questionou alguém. “Nome dos sorrisos que guardas no teu coração, memórias das almas que abençoas todas as horas. As almas que me fazem brilhar e apagar durante as noites precisam de ti.” Respondeu a salvação.

Deixaram-se flutuar sobre o chão luminoso, pedindo licença alguém disse, “Deixa-me contar-te um segredo: Metade de mim adora-me, metade de mim odeia-me…” E a luz apagou-se…

Para quem me acompanha... M.M.

Friday, October 05, 2007

Escolher para Desfrutar

A angústia invade quer o inquieto, exclusivamente deslumbrado por aquilo que arde com uma luz vaga, quer o poeta cheio de amor pelos poemas que nunca escreveu o seu, quer a mulher apaixonada pelo amor, mas incapaz de devir por não saber escolher. Eles bem sabem que eu os curaria da angústia se lhes permitisse esse dom que exige sacrifícios e escolha e esquecimento do universo. Porque determinada flor é, em primeiro lugar, uma renúncia a todas as outras flores. E, no entanto, só com esta condição é bela. É o que acontece com o objecto da troca. E o insensato, que vem censurar a esta velha o seu bordado, sob o pretexto de que ela poderia ter tecido outra coisa, demonstra com isso que prefere o nada à criação.
Antoine de Saint-Exupéry, in "Cidadela"