Wednesday, October 31, 2012

"As neves de Kilimanjaro", Ernest Hemingway

Ontem fui enganado, foi um erro sem intenção mas fui enganado. Fui até ao Wall Street para mais uma aula e quando cheguei e professora vira-se para mim e diz "Grande sentido de pontualidade, M., chegou com uma hora de antecedência" Pois bem marcaram-me no meu horário uma hora e a aula estava marcada para a hora seguinte. Apenas uma justificação para chegarmos ao ponto de interesse. Sentei-me no sofá, a recepcionista gentilmente preparou-me um café e decidi ir à mini-biblioteca resgatar um livro para me entreter. Hemingway captou a minha atenção. "As neves de Kilimanjaro" era um livro que nunca tinha lido e continua por ler dado não ter acabado nem de perto nem de longe o livro... no entanto a história é cativante e motiva-nos a ler até ao fim, pelo menos foi assim no meu caso. Bom, houve algo nas primeiras páginas que cativou-me particularmente. Num diálogo entre Harry Street e a sua mulher, Hemingway assinala a melhor forma dos seres humanos se destruírem:


E por aqui nos ficamos! Cordialmente, Ernest Hemingway!

Friday, October 26, 2012

Levin em "Anna Karénina", Lev Tolstoi

Chegando ao fim de mais um daqueles livros que se devem ler até ao final da nossa vida temos sempre um sabor agridoce: a satisfação de ter consumido uma bela história e a tristeza do fim de uma história que nos deixa com saudade tal como nos deixou Anna Karénina após o seu desaparecimento na estação de Nijni Novgorod. É tempo de recordar uma das belas passagens num retrato de vida de Levin:

"Continuarei a zangar-me do mesmo modo com o cocheiro Ivan, continuarei a discutir, a exprimir os meus pensamentos fora de propósito, continuará a haver um muro entre o santo dos santos da minha alma e as outras pessoas, até a minha mulher, continuarei a culpá-la pelo medo e a arrepender-me disso, continuarei sem compreender com a razão porque rezo, mas a minha vida, toda a minha vida, independentemente de tudo o que me possa acontecer, cada minuto dela, não só deixará de ser sem sentido como era antes, mas terá o inquestionável sentido do bem, que está em meu poder investir nela."

Lev Tolstoi, in 'Anna Karénina'

Sunday, October 14, 2012

Aí está ele... o primeiro sopro de Outono


Naquela tarde saí à rua e depois de tempos áridos e quentes senti pela primeira vez o sopro do Outono e com tanta saudade a recebi. Era calmo, amigável e dócil, era frio, arrepiante e sereno. Aquela brisa trouxe à tona uma série de pensamentos flutuantes e podia dizer, de facto, que até certo ponto eram brilhantes mas que de tanta alma consumida poderia converter-se em factos exorbitantes ou quiçá perturbantes. Aquela era uma caminhada do meio de tarde, mas os tempos mudaram e soava a final de dia, o sol ainda metia inveja ao horizonte, abanava as asas e fugia para que o tempo se eternizasse e a noite se acumulasse para outra rumaria. E eu embalado naquela senda caminhava destemido pois a brisa de Outono abraçava-se, recolhia-me numa ternura que me ia aos poucos completando. Hoje, contínuo a pensar naquele sopro de vida, naquele embaraço... um sorriso aberto, a brisa a passar, uma mão que se alastra...

M.M

Friday, October 05, 2012

"Quando nos apaixonamos"

"Quando nos apaixonamos, ou estamos prestes a apaixonar-nos, qualquer coisinha que essa pessoa faz – se nos toca na mão ou diz que foi bom ver-nos, sem nós sabermos sequer se é verdade ou se quer dizer alguma coisa — ela levanta-nos pela alma e põe-nos a cabeça a voar, tonta de tão feliz e feliz de tão tonta. E, logo no momento seguinte, larga-nos a mão, vira a cara e espezinha-nos o coração, matando a vida e o mundo e o mundo e a vida que tínhamos imaginado para os dois."

Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Público