Wednesday, November 28, 2007

Choro das Árvores de Outono

Esperámos tantos meses e nem demos conta desta corrida de velocidades estonteantes com um certo sabor a loucura.

Tivemos tempo para pensar numa após outra a flutuar neste doce mar que desaparece da vista do nosso olhar e nunca nos passou sequer pela imaginação uma simples memória deste momento tão único, verdadeiramente oculto de todos os pensamentos que possamos obter na conjunção de cálculos diários, mensais, quem sabe anuais.

Então conto-vos… Ora mantêm-se intactas, ora ouvimo-las a rugir sob os impulsos das ventanias que do breve ao grave as mantêm vivas.

Chegou a bonança, deslumbre das nossas mentes esquecidas, e são tantos segundos de encanto, serão tantas imagens maravilhosas que a nossa mente vai apagar desnecessariamente. O vento saltou das brumas, elas caíam… o inevitável ser humano lembrou-se, levantou as mãos mostrando a sua pureza aos céus e abraçou todas as gotas imaginárias que a árvore largava em pequenos soluços naturais, enquanto o vento lhe gritava… a árvore chorava o esquecimento.

Sempre contaram-me que se tratava de um correr de estações, chorará por mais esta corrida infernal?

Aproveitemos a dádiva, amanhã serão recordações perdidas a rolarem através dos suspiros melancólicos do vento. Conseguirás ler o tempo?

M.M.

Sunday, November 25, 2007

Queda de tantos Romances

O vento soprava de norte para sul, amarguradamente atravessava cenários, milhares de imagens, quilómetros de reviravoltas sem parar. Ia entrando pelas portadas de uma e outra habitação, vagueando por todos os cantos dos corredores, entrando em tantos quartos repletos de capítulos extasiados por tantas e felizes memórias pictográficas… Hoje reviu quadros manchados por uma tristeza que cobriu mais uma casa deste mundo de perdições reais, os discos de vinil tocavam silenciosamente a amargura daquelas lágrimas; saltou, ganhando vida própria, surgiram revoltosamente tornados de melancolias e saiu em fúria na direcção das portadas que ainda abertas fizeram uma enorme corrente de ar, levando tudo o que havia à sua frente, tantos momentos felizes que se estilhaçaram pelo chão, formando-se enigmas pelos mosaicos, situações que serão tão difíceis de voltar a resolver. Saiu, percorrendo em rodopios de fúria os jardins que outrora eram ninhos de declarações preciosas, onde as palavras de tantos amores contavam histórias de sorrisos intensos, lágrimas abençoadas… tantos factores que lhe davam incentivos para continuar a rodopiar sobre o mundo.

Hoje absorve-se, tornando-se num estereótipo de vagabundo que veste a pele de um trovador em sofrimento pela causa da queda de tantos romances. E de que lhe valerá? Seria a boa nova para um outro alguém? Estaria aquela encantada face amargurada à espera da aclamação do palpitar intenso do seu coração? Indecisão! Talvez recusasse esse pensamento, vagueava apenas por um jardim, onde as suas rosas brotavam os seus desejos e lhe falavam dos tempos áureos em que eram símbolos de enorme importância sob anos sem fim. Falava-lhe também do presente e do desejo de um dia voltar a acreditar que aquele espaço tão belo, tão harmonioso, repleto de paixões escondidas, nunca mais seria um cemitério, onde o romance cairia sem piedade. Outrora era o nascimento, no presente era o desenvolvimento de um sentimento muitas das vezes fugaz e sem brilho, e num futuro será renascimento? O vento deixando os suspiros de vassalagem, regressou ao seu estatuto natural deixando a doce terna alma em descanso. Inverteu a sua marcha, sopram agora rajadas de sul para norte…

M.M.

Thursday, November 22, 2007

Aquele livro em Branco...

São tantas as palavras que me faltam, são tantas as ideias que tenho para preencher este vazio repleto de céu. As páginas em branco ganharam expressões, num impulso… um folhear de vidas, de histórias silenciosas, vejo palavras a formularem-se diante dos meus olhos, comunicam-me…

Porque não pegas nessa imensidão de cores que possuis e rabiscas este meu branco profundíssimo até aos limites? Porque não se tratam de rabiscos, tu apenas precisas de respirar em liberdade, não precisas que te retirem espaços, precisas de todo o espaço e mais algum.

É uma história pintada de branco? Não, tem tantas cores e figuras, tantas emoções e sentimentos… mas esta história já teve à muito o seu fim, hoje o branco é a doce harmonia que o meu espírito desenha em ti.

Isso significa que não tens sequer uma palavra visível para mim? Foram todas visíveis em tempos, hoje são apenas visíveis na minha mente.

Mas então, para que sirvo neste momento? Servirás os comandos das boas recordações, e serás lido em suspiros de nostalgia, és mais uma época de tantas vidas, algo que todos irão querer relembrar por boas razões.

Vou-te fechar, não te aflijas, respira as boas palavras pelas tuas coloridas páginas em branco.
M.M.

Monday, November 19, 2007

Portas do Medo

Vejo e revejo ecos de angústias habituais, oiço choros indetermináveis…

A fechadura desliza de uma forma tão natural, esta porta destranca-se tantas vezes, emite tantos ruídos infernais, corrompem-nos os sentidos mais sensíveis, atacam-nos de forma tão cruel, deitam-nos num chão imenso, sem cor, sem brilho… é um dilúvio de tudo, um vazio de nada; um mundo rodeia-nos mas, sentimo-nos tão sós nestes instantes, é como se tivéssemos sido consumidos por algo que tantos conhecem mas que não conseguem explicar, desenhar, acima de tudo fugir. Pergunta-lhe porque sofre, nunca terás resposta a tal pergunta, apenas sentirás os tremores de uma alma ferida por um intenso odor a desespero, sente-se o gosto de tantos medos, deslumbram-se dias que se transformam em anos, a porta não se fecha, é tudo tão escuro, temos medo deste convite temporal…

Fechou-se, mas alguém do outro lado tende a exaltar-se e a combater aqueles trincos com todas as suas forças.

As luzes acenderam-se, está tudo pintado de branco… Sempre sonhei viver neste iglu com portadas viradas para o céu!

M.M.

Saturday, November 17, 2007

"Kepéla"

Estamos nas margens opostas deste rio...

Para o atravessares, basta encontrares um motivo e ficaremos na mesma margem.

Entra nas águas revoltosas apenas se tiveres saudades, se não as sentes, deixa-o sozinho, sentado lado a lado com o silêncio.
M.M.
(No dialeto africano da tribo Khu, kepéla é quando duas pessoas se encontram em margens opostas do mesmo rio.)

Friday, November 16, 2007

Discípulos da Preguiça

Estava tanto vento e nos céus voava ela, rumando contra as ventanias consistentes. De cabelos erguidos seguia-lhe as asas, eram fortes e tão ligeiras, passeava-as sem objectividade no seu rumo ao longo dos minutos de batimentos reforçados, até que se cansou e pousou bem ao meu lado…

Sorriu-me, tinha uma vaga memória daquela imagem, daqueles olhos… de onde me lembraria? Tantos anos de retrocesso da mente num espaço tão curto de tempo, eis que me lembraram da sua figura amigável. Nos livros infantis trouxe-me ao mundo, ainda me recordo desta imagem tão boa, tão feliz; num lugar tão colorido, que sempre me fez pensar e acreditar que não existiam problemas no nosso mundo.

Mas como teria saltado dos livros dos bonequinhos simpáticos e bonitos? Será que lhe custou muito?

- Depois de tantos anos volto a encontrar-te. Hoje faltaste ao serviço das histórias de criança? Vejo-te em contornos destacados de descanso, vieste relembrar o berço da preguiça onde me deixaste? – Retorquiu o jovem rapaz.

- Chamaram-me tanto que voei desde as histórias dos livros de contos até à realidade, foram anos de viagem sem descanso, a fantasia fica tão longe, nem imaginas o quão longe… Não larguei nenhuma das minhas histórias, sou apenas uma réplica de tantas elas, de tantas diferentes versões. – Disse a Cegonha.

- Então conta-me réplica, diz-me o teu nome, conta-me baixinho ao meu ouvido, porque te enganaste comigo? Perdeste-me no espaço, antecipaste-me no tempo. Onde está a minha versão feminina? Onde está aquela que deveria ser a minha gémea? Que contas tão estranhas foram essas? – Questionou o rapaz.

- Sou a cegonha Preguiça, olha para mim, deixa-me sussurrar-te ao ouvido. Ela está no seu lugar correcto, nesta vida não tive paciência para um grande enquadramento, agradece-me nem sempre a irmandade é tão bonita como uma amizade fortíssima, concordas? – Perguntou a senhora da preguiça.

-Mas… - Soletrou com ímpeto o seu discípulo.

A senhora cegonha interrompeu-me!

- Não digas nada, eu sei que concordas comigo. No passado talvez tenha-vos entregue a irmandade, hoje entreguei-vos a amizade em parceria com o amigo destino, têm todas as possibilidades, escrevam a história tal como quiserem.

- Ainda tenho outra longa viagem para fazer. Adeus meu filho. – Concluiu a Cegonha.

- Adeus senhora cegonha. – Disse o jovem rapaz, acenando para os céus.

E a cegonha seguiu viagem rumo ao passado, voou e voou, para um país bem distante, o vento saiu mas chamou o frio para o substituir, lá de cima viu uma menina sentada num jardim, soou-lhe a alguém familiar, e de bico bem levantado decidiu voltar a terra antes de voltar à eterna fantasia… Aterrou, assustando a menina, que ficou apavorada e correu para trás de uma árvore… lá de trás, só se deslumbravam os seus olhos brilhantes, que espreitavam discretamente, aguardando a ida da grande cegonha, mas esta ficou estática, não tinha intenções de sair dali tão cedo, então a menina saiu de trás da árvore em passos de medo, estava bastante encolhida.

Depois deixou que as suas palavras saíssem com dificuldade…

- Quem és tu? Que susto… - Disse a menina bastante assustada.

- Sou a história da tua infância, não te lembras? – Perguntou a cegonha.

- Não, tu só me fazes lembrar sustos, tenho medo de ti, desculpa ave grande. – Disse a menina de forma sincera.

- “Mamã, mamã, como vim eu ao mundo? Foi a cegonha que te trouxe filha”, lembras-te destas palavras? Não faças beicinho menina, não te vim fazer ma, vim contar-te um segredo… - Disse a cegonha.

- Ah! Sim, a mamã sempre me disse que foste tu que um dia me trouxe cá para casa, és tão grande, tão branquinha, posso voar em cima de ti? Vamos ver o castelo flutuante, sim? – Questionou a menina, agora sem receios…

- Não! Hoje ficas aqui quietinha no jardim… Um dia vais viver num castelo bonito, vais-te perguntar como entraste lá dentro e como te deixaram ficar por lá, vais questionar tudo e mais alguma coisa, vais questionar-me a mim também, porque poderás jurar que na torre vive um menino muito semelhante a ti e não saberás explicar porque foste lá parar, mas vais sentir-te bem. – Disse a cegonha.

- Que história bonita é essa? Conta-me… - Pediu a menina.

- Hoje não. Um dia vão-te a contar. Lembra-te no futuro dos traços que o destino te colocou, lembra-te da cegonha preguiçosa que te trouxe ao mundo. Tenho uma viagem longa, adeus minha filha! – Disse a senhora cegonha.

- Adeus Ave grande, faz uma boa viagem. – Disse a menina, acenando para o céu.

Rumou aos céus, seguiu pelos trilhos das nuvens e desapareceu nos céus, na sua viagem até ao mundo da fantasia, deixando para trás os seus discípulos... em espaços temporais completamente distintos.

Quem seria ela? Que me queria a mim? Que história tão estranha me veio contar? Será que vou viver num castelo de verdade? A mamã sempre me disse que a cegonha que me trouxe era bonita e muito amiga, os amigos são verdadeiros e sinceros, eu acredito nela… E será que viverei naquele castelo que flutua sobre as nuvens? Hum queria tanto… Gosto tanto de olhar para ele, gostava tanto de voar como a senhora cegonha para tocar no cimo do castelo. Como será? Terá reis e princesas, como nas histórias bonitas que me contam? Tantas perguntas, de certeza que vai demorar tantos anos para brincar ao castelos. Não vás senhora cegonha, vem brincar aos castelos comigo, ou trás o menino da torre para brincar comigo…

A cegonha já há muito tinha desaparecido do raio de visão, no entanto fixou os seus olhos no céu e leu nas entrelinhas imaginárias: “Um dia…”.

M.M.

Wednesday, November 14, 2007

Amizade, por Aristóteles!

"O que é um amigo? Uma única alma habitando dois corpos" [Aristóteles] Para que não te esqueças: Tantas vezes somos um só...

Tuesday, November 13, 2007

Grito de um Anjo

Poderiam atribuir um voo mágico e entregar-lhe meios para a ocorrência velocista de todos estes acontecimentos. O mundo aclama por ti, num desejo inevitável de um vaivém de sensações imaginárias.

Onde andarás agora? Para onde te diriges? Ninguém vê os seus rastos, ninguém o sente dentro de si, escutam-se apenas milhares de ecos fantasiosos perante os inúmeros calculismos dos seus raciocínios; Nada se ouve nas ruas das circunstâncias casuais, escuta-o no mundo dos silêncios, onde choram tantas almas nos seus abraços, são lágrimas que apaga e guarda-as para si, na sua enorme caixa de recordações sem que ninguém tenha entendimento sobre essa causa.

Solta o teu grito, faz-te ouvir…

Numa tarde de Outono, entregou as suas palavras a toda a humanidade, linhas que a muitos causaram uma enorme estranheza, outros reconfortaram-se tanto e festejaram cada letra, como se, de suas últimas letras se tratassem, soltavam rumores de um apagar furtivo, de uma ausência premeditada a desaparecer dos ares…

“Fecha os olhos e sê imune a todos os sons que o mundo te entrega, vou ensinar-te a sentir-me bem perto de ti, silêncio de todas as almas… escuta a brisa do vento, sou a melodia que tanto desejas ouvir, sou o cruzamento dos vossos cabelos; virei chuva branda, sou a bênção que sempre pediste aos céus, o baptismo de uma nova vida; ouves o rugir dos trovões, sou eu que luto contra tudo e contra todos para que não me tirem do teu lado, sou a força que a todos nos falta; sente o calor deste sol que te aconchega, sou eu que aqueço carinhosamente a tua alma, sou o toque na tua pele, o registo dos arrepios vindos do nada; e se algum dia nevar, espero que recebas as minhas preces, que o branco tudo invada e se torne num manto de resistências, resista ao vento, à chuva, às trovoadas e ao sol… Nesse dia vais sorrir pela humanidade, e a tua mente irá jurar que um dia viste um anjo, que sempre te guiou, gritando e aclamando em sussurros bem junto ao teu ouvido.

Estás nos braços de um anjo, encontra conforto aqui.”

Hoje troveja tanto… Chuvisca trovões de agonias!

M.M.

Saturday, November 10, 2007

Nas Ondas de Tchaikovsky

Bailam as correntes marítimas sobre o areal encantado, percorrem-lhe a alma sobre o vento gelado que os acolhe. Guarda aquele momento eterno na sua mente, embora não o saiba descrever no concreto; há algo que baila sobre as águas cansadas, está tão longe, de que se tratará? Visão desfocada? Imaginação? Holograma? Vai caminhando pé ante pé formulando pegadas sobre a água de uma forma bastante desconfiada, saltitando com as bênçãos da terra… Já a viu, a imagem foi descodificada… é uma bela estrela-do-mar, pintada pelo pôr-do-sol ganhou vida, transborda encantos, deslumbre da sua visão. Agora, conta-lhe a história da estrela que lá dos céus ansiava tocar no azul precioso…


(Allegro con spirito)

Lançou-se à terra sem medo da viagem cadente que a poderia suprimir para sempre, com muita vontade ninguém parou a sua marcha de fé, desgastou-se de forma notória perdendo o seu brilho conceituado, mas cumpriu o seu desejo, tornou-se uma deusa dos céus e entregou-se entusiasticamente ao mar… Mergulhava e voltava à tona, desaparecia e voltava a aparecer de forma constante; os grãos da areia movimentavam-se nas bermas do espumante produzido pela queda de uma e outra onda deste mar privilegiado, observando atentamente tudo cá de fora, estavam pintados em todos os cantos deste quadro, realçando a sua abundância naturalista na recepção à pequena estrela.

Era algo de mágico, transmitiu-lhe uma paz divina, encheu-o de contentamento, maravilhou a sua alma carregando-a de grandes energias. Agora, pinta-lhe as sensações, conta-lhe do primeiro mergulho, do anoitecer…

(Prestissimo)

Tão pequena e tão meiga, saltitava as ondas que em coro lhe entoavam uma única voz de boas vindas. Estava visivelmente feliz, picotava a rítmica da harmonia. Correrias, corridas no tempo, balanceava-se sobre os minutos daquela tarde… passavam as horas do dia num suave abrir e fechar de olhos, de nada o contentamento descolava, banhava-se de emoções… A noite instalou-se ligeiramente, rumavam os minutos para a escuridão total, a estrela deixara a felicidade fugir-lhe de entre os seus braços, esta voou rumo aos céus e salpicou o céu com uma primeira estrela que brilhou, amedrontara-se com a percepção das saudades que já sentia do encantado negro universal; Pobre estrela que de tão contente estavas nos minutos que antecederam o luar, e agora estás assim tão deprimida, tão isolada daquela alegria que o comoveu. Saiu da água e sentou-se envolta dos grãos da areia que desde logo a abraçaram.

Apertou-lhe o coração. Agora, conta-lhe a história da estrela-do-mar que sonhava em ser uma estrela brilhante…

(Allegro con fuoco)

Pediu tanto, tanto, que conquistou asas e voltou a voar ultrapassando as barreiras sinuosas da atmosfera, recolocou-se nos céus esperando que uma nova foto de família fosse visualizada pelas objectivas terrestres. E nunca mais ela quis tocar no azul preciso, limitando-se a observá-lo lá de cima. Brilha lá no alto como nunca antes tinha brilhado, no dia seguinte enquanto caminhava sobre as areias, uma voz ergueu-se baixinho, contou-lhe em segredo que grãos de areia se passeiam pela Deusa do Universo.

M.M.

(Pano de Fundo: Tchaikovsky: Concert for Piano and Orchestra Nº1 Op.23 in B flat minor- Andantino Semplice.)

Wednesday, November 07, 2007

Grafiters da Memória

Anda, caminha ao seu lado, se tremes… o seu corpo torna-se fraco e desvanece-se caindo imóvel sobre esse chão onde os vossos passos se divulgam, se choras, inundas-lhe a alma escondida, ficam os dois submersos, mas se te afogas nessa imensidão, salvar-te-á erguendo-te até à superfície desconhecida; se te ris, contagias-lhe o espírito, deixas que o seu sorriso se liberte em comunhão…se estás feliz, rodopia por entre os cantos desta sala imaginada, artista moribundo desta arte sem fim, transparece a sua euforia… vá anda, caminha ao seu lado. Nem te tentes perder, esquecer, voltar passos atrás… é impossível, são tantas as paredes pintadas com gestos, acções e palavras retratadas, lembrar-te-ias e voltarias a correr em passos pequenos, encontrá-lo-ias sentado junto à mesma parede onde o havias largado, estava expectante, visivelmente agastado à espera que chegasses para pintar mais uma das infinitas paredes deste labirinto por onde vagueiam, não deixaria que ficasses para trás perdida nas tuas memórias actuais que o seu passado haveria transformado, não permitiria que descobrisses sozinha o significado destes rabiscos transformados em contos; Anda, caminha a seu lado, gosta muito mais de colori-las sabendo que observas atentamente cada traço sentada no teu canto, aprendes a colorir este mundo com cores mais felizes, outras mais tristes… Mas sobressai a harmonia deslumbrante! Gosta que partilhes o seu silêncio e que sorrias após mais uma e outra… Acabou mais uma parede, sorri é um memorial às pequenas crianças que um dia se encontraram para caminhar lado a lado, vá dá-lhe a mão, têm tanto que pintar, aprender, caminhar… Haverão de pintar todas essas paredes brancas durante vidas e mais vidas… Abre o livro, página 31, eis os “Grafiters da memória”.

M.M.

Sunday, November 04, 2007

Passeio da Apatia!

Conta-lhes espírito encantado, a Era dos sons que nos deixam anestesiados de todas estas visões, dos segundos que nos vão ultrapassando neste passeio pelo obscuro e tristonho bosque da apatia. Era onde o cansaço lhe conquista a alma, onde deixa de proteger toda a vista preciosa que as torres do seu domínio lhe proporcionam; desceu a escada imperial, e saiu num aparato revolucionário, largando tudo o que de mágico o seu Eu continha. Saiu, deixando abertas todas as suas portas, os guardiões estavam espalhados pelo chão, adormecidos pela sonolência que em suspiros a todos envenenou, olhava-os com tristeza sobre o céu cinzento que os cobria.
Chuvisca…
Não raciocinava de forma natural e equilibrada enquanto avançava nos acordes tristes dessa era amargurada, rumando nas linhas do vagabundo miserável onde se expunha e, distanciava-se cada vez mais, mais e mais…parou as quadras do tempo, deixou de se mover, olhou para trás lentamente, ergueu os seus olhos em aflição e tudo o que era seu desapareceu, nada mais existia, tudo a apatia tinha consumido sem dar tréguas, os seus joelhos caíram hirtos sobre a terra molhada, cheirava-lhe a desespero, tinha aromas de amargura e sofrimento da humanidade que o consumiam e o arrastavam para bem longe, num pesadelo artístico que o próprio compunha.
A sua alma chuviscava…
Abriu os seus olhos, pesadelos dos seus passados, o chuvisco da apatia abandonou os céus, o sol raiou bem-parecido, era de madrugada e todos se reuniram no átrio das romarias, todos sem excepção tinham resistido ao envenenamento dos chuviscos, não tentaram sequer fugir, uniram-se e derrotaram os meus pesadelos de ontem à noite…
Chuviscou.


M.M.

Thursday, November 01, 2007

3x: A expressão em forma Matemática!

100x, 200x, 300x, 400x, 500x... até aos +00x poderia chegar, mas não, digo com firmeza 3x; não é uma questão de expressividade numérica, é sim, uma questão simbólica, haverá algo mais perfeito na linguagem da matemática do que um simples e gigantesco 3x? "Eu cá penso que não" disse de forma convicta, o sério orador das palavras codificadas. "Trocavas-me?" Não, não a trocaria por nada, nem por nenhuma outra expressão numérica, daí não dar-se conta de qualquer tipo de confusão de algarismos... Na contagem numérica, o três acenta-te tão bem e vale por todos os números possíveis e imaginários; e tão rápido formulou-se esta questão funcional, e em tão pouco tempo foi resolvida, dar-nos-ia uma tese cientifica acerca desta lei que tantos procuram, e que à priori, tão poucos a provam de uma forma tão inconsciente e pura. Não se aflijam, é uma questão de números, contem os tempos, marquem vigorosamente os vossos intervalos nesse compasso infindável e obterão resultados. Hoje sinto-me como Arquimedes se sentiu quando determinou o número exacto de Pi, mas ao contrário do grande mestre, não precisei de centenas de folhas de cálculo para realçar que um 3x é a chave de todos os encontros... de todos os momentos passados guardados na história, de todas as vidas futuras; é a memória que guardamos dentro do nosso pulsar...

Um, Dois, Três...

Vem caminhando, 3x é o patamar natural onde te coloco, esteja lá onde eu estiver... (Aqui, ali ou algo mais além) não te afastes de lá!

M.M.

"Se vos contasse, teria que vos matar. Antes disso, matar-me-iam vocês"