Wednesday, November 26, 2008

Se bem me quer...

Não sei se me entendes ó psicologia desinteressada do bem me quer… se eu de querer-te tanto me esforço para além das ramagens flutuantes enxaguadas de mágoas acumuladas num fundo de destemperança. Tens razão persigo-te continuamente, persistente… corro em melodias avessas até mais não, e do senão liberdade infinita, imensidão… não coroes a minha presença… ama-me simplesmente em forma na profundidade alegre do teu ser. Que do óbvio se celebre entre os nossos braços a perseguição de tudo o que nos quer e o que não nos quer nem a bem nem a mal será eternamente perdido na desconfiança da célebre novidade antecipadamente esquecida. Que bem me quer, lembrei-me… estou a prolongar-me nesta infinita noite de vida, enfim, deitei fora as malas esquecidas. Que malas? Nem sei bem…

Se bem me queres é profundo, é terno na convulsão dos sentidos… “Bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer, mal-me-quer...” a esvoaçar pela brisa suspirante na encosta do monte de prado verde florido em terra natura.

M.M.

Monday, November 03, 2008

Carta aos Apostolos da demagogia tão profunda como a Nostalgia!

Somos imagens plantadas no seio desta terra fortalecida de histórias perdidas por entre fendas cruéis ou de forma vangloriosa por entre os raios brilhantes que ainda se passeiam com ternura nos jardins mais floridos da nossa recordação. A reminiscência é doce e amarga entranha-se na alma e oferece-nos um gosto a estranheza, divaga nos organismos libertando-nos do vazio… Nostalgia? Claro! Temos tantos livros abertos, escrituras de um passado tão recente… Aquelas tardes apaixonantes em que todos os costumes eram por si nobres corações aventurados, deslumbrados por cada minuto em que o mar nos falava em murmúrios da sua pacata tristeza. Ouvíamo-lo entrelaçando os corações entre as raízes dos nossos dedos e chorávamos em silêncio a sua dor sagrada. Nostalgia presente nas memórias da sensibilidade, há quem a tema na perplexidade das lágrimas que correm sem parar na espera que a lembrança surja e lhe escoe a tortura presente no seu peito… Confia em mim, sei que percorres alegremente o meu corpo, silencia as tormentas, escreve-lhes as sonatas mais belas, em suma, reaparece numa erupção volumosa sob as ordens simples de um olhar tão forte que vindo do nada nos arrepia e nos enamora imaturamente sem razão aparente de ser… Em instantes benevolentes recriamos romance, um pôr-do-sol, umas estrelas brilhantes, uma lua, um sol e alguém sentado ao nosso lado que faça dia, faça noite jamais será esquecido… Eu lembro-me… Foram tantos caminhos felizes sem noções de um amanhã, tantas pedras invisíveis aos nossos olhos perdidos no encantamento, razões sensoriais ao nosso sofrimento. Momentos sofríveis, desprezíveis numa troca abundante de vidas e mesmo assim, mal sabem vocês das saudades que tenho de vocês… De ti, de ti… mais de ti e a ti também… Das lágrimas aos sorrisos espontâneos e sentidos, uma celebração natural das nossas palavras.

M.M.

Saturday, September 13, 2008

Do servo para a sua ama


Se o reino é magia, não a busco... nem tão pouco a sei procurar, mas se algo mágico é vê-la sã e em sorrisos de felicidade… então a magia não se poderá esconder muito mais. Terei de sujeitá-la à minha protecção. Quem mais tolo seria se não eu para salvaguardar as obscuras palavras em profunda sinfonia? Pois não se preocupe que a orquestra é sua dádiva e a música vibrará sempre com intuito de felicidade em sua janela.

Saturday, August 23, 2008

Parte 2: Liberdade em Chamas/ Chamas em Liberdade

O tumulto desafia o silêncio desde que uma fase densa e quente instalou-se no espaço e numa tremenda explosão recriou um tal de “Big Bang”. Lutavam na invisibilidade do espaço e ninguém os sentia. Pela convulsão atroz do avançar do tempo julgava que o silêncio sentia tremendas dificuldades em alcançar os seus desígnios mais distintos encontrados nas brisas cósmicas, os suspiros de paz. Mas ninguém sabia, nem se importavam com a soma de todas as infracções provenientes das incisivas leis do tumulto. Enfim… estávamos livres, desligados da corrente problemática do mundo, ou seja, estávamos escondidos das fortuitas leis designativas do que para todos nós era o “irreal”. Mas naquela caserna repleta de libertos eu não me conseguia sentir em liberdade – inspira a chamada à contradição, tantas vezes outros recorrem às nossas palavras em busca da liberdade que tanto procuram e não obtêm de forma alguma, nesses compassos dão-nos a conhecer a prisão em que se encontram e a porta abre-se para uma substituição de elementos -, estranhamente sentia que não era o único no meio da normalidade daquela multidão, mas não busquei o instinto, desprezei delicadamente a sua chamada e nem ocorrência se prestou a registar; Não esperei pela estranha resposta escondida naquela lotaria de rostos.
Dois passos atrás, um grito vazio (consumido em mim) percorria o seu sentido inverso e afinava com repreensão as minhas cordas vocais, o silêncio… Mais um passo, o recolher de um pensamento refugiado escondido no nada. Não necessitava de mais passos, o ar fugia-me e afogava-me num mar desenhado no interior da minha mente, os meus olhos recolhiam na neblina e tudo era visualizado em relances de um olhar pasmado diante das chamas a lutarem entre estados de espírito descontrolados… Tudo compreendido numa memória de nanossegundos contabilizados pela falta de inércia dos meus dedos. O pensamento imobilizava-me por completo, jamais poderia voltar a dar dois passos em frente e ultrapassar a linha… a tal linha que impulsionaria de novo aquele grito que estava agora a entoar ecos sofríveis dentro de mim. Necessitava de luz, uma espécie de combinação entre alma e magia. Breve, semi-breve… tão breve e suavemente soltara-se uma chama, concedi-lhe carregando em dificuldade no manípulo suado do meu isqueiro enquanto fechava os olhos em busca do raciocínio imediato. A loucura aproximava-se de mim sentia que me carregava aos seus ombros e quando abri os olhos a chama era divina e sagrada, não era loucura não… ateava a estrada que me convidava à salvação… a estranheza viera entregar-me concelhos e levar-me à liberdade…
Soltando as nossas chamas com todas as forças que propusermos a lá deixar num caminho de retorno… A verdade é que tanto poderemos ter força para cobrir de chamas um tumulto como encher de paz o nosso mundo.
23/08/2008
M.M.

Thursday, August 14, 2008

Parte 1: Chamas a Liberdade

Mantive-me bastante tempo impávido, deixando na ausência a beleza tremenda da deusa serenidade, a pensar quais seriam as artimanhas necessárias para testemunhar este feito intrigante de uma carga intensa possuidora de tantas forças rebeldes; chamar-lhe-ei de “essencialmente especiais”. Pediram-me em silêncio para seguir as rotas do segredo no meio de tanto aparato, propuseram-se a desafiar a capacidade tão respeitosa do que é transformar algo banal e perdido em criação paranormal sobre as divisas do simplesmente normal. Sem pensamentos interesseiros não pedia trocas mas, requeri uma substituição avassaladora dos elementos circundantes, por isso, ao “empurrar” o pensamento rumo ao tempo na sua direcção inversa, pedi que transportasse nos seus segredos mais profundos uma lista de elementos fulcrais.
Substituam todo esse ruído submerso de contradições e de equivalências sonoras sem nexos e aprendizagens – Para quê revolucionar todo um ambiente e criar muralhas entre as respeitosas audições? -, dessa forma andarão constantemente a flutuar num vasto rio sem pescadores, ou melhor, os pecadores existem mas na verdade a sua consciência não vos deseja. Portanto, absorve todas as locuções e interliga-as, mas peço alma, muita alma… Para maravilhar toda esta transformação! Na teoria pedia silêncio, nem que fosse ocasional, um sussurrar ligeiro e um grito profundo quando pisares a linha que te colocará em liberdade.
Agora que és livre, ainda duvidas que somos mágicos, críticos, criadores e leitores de tantas liberdades e pensamentos? Enfim… O pensamento retornou veio educadamente instalar-se no seu berço de corridas imaginações.
14/08/2008
M.M.

Saturday, July 26, 2008

Encontro no seu desencontro...


Andam constantemente a vaguear pelas emergentes armadilhas dos pântanos, sobre fungos lamacentos, humidades desumanas, bichos estranhos e assustadores que os fazem perder o ar. Eles não sabem, disso aquela alma poderá sempre se defender, que a neblina é o pânico a invadir a sua alma, doce vento a circundar sobre a calada. Remotamente a névoa ficou mais forte, o alvoroço chamou por alguém que se encontra longínquo, audição habituada ao acontecimento soube bem distinguir os gritos sumidos vindos dos pântanos. No terror sentiu necessidade em ouvir as habituais asas brancas a entoar solos de salvação, aguarda com impaciência e deixa em liberdade todos aqueles rituais de nervosismo que constroem o seu ser.
Rompia a alvorada ainda repleta de negrura e as asas brancas percorriam as galerias da sua habitação, nunca soube o seu destino, seguia um instinto… talvez fosse esse o seu propósito, o destino de se encontrarem sempre naquelas ocasiões em que o desencontro emocional era bem mais forte do que tudo o resto…

26/07/2008
M.M.

Sunday, July 20, 2008

Juan Ramón Jiménez


Juan Ramón Jiménez nasceu em Moguer, no sul da Andaluzia, em 23 de Dezembro de 1881. O poeta ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1956, morreu a 29 de Maio de 1958.
Escrever sobre Juan Ramón Jímenez obriga a falar de modernismo: a sua poesia foi, no começo, influenciada pelo movimento e fez depois evoluir o modernismo espanhol. Assim iniciada, a poesia de Juan Ramón começou por obedecer às leis deste amplo movimento: um esteticismo de raiz romântica, predominantemente sentimental, em que o eu é quase sempre o centro do poema, com os seus lamentos, uma visão idílica da natureza, uma sensualidade difusa, paisagens que são reflexo do seu espírito inquieto e por vezes mórbido, da consciência que lhe revela a transitoriedade humana, o abismo da beleza inatingível indiferente a essa transitoriedade. No entanto, o trabalho de Juan Ramón - este ciente de que só a beleza poderia vencer a morte e que a sua própria morte só seria vencida quando ele completasse a sua obra - prossegue em busca da perfeição, entre avanços e repetições. A sua poesia era testemunho de uma profunda inquietação, uma sede terrível que nada poderia saciar, e que se fecha no seu ponto mais alto do conhecimento: o de um Deus por ele alcançado através da beleza que, através de uma luta obsessiva de toda a a sua vida, descobriu e revelou na poesia.

O Canto do Grilo

"As horas passam, serenas. Não há guerra no mundo e o lavrador dorme tranquilo, vendo o céu no fundo alto do seu sonho. Talvez o amor, entre as trepadeiras de um muro, ande extasiado, de olhos nos olhos. Os favais enviam para a aldeia mensagens de terna fragrância, como numa inocente adoloscência cândida e subtil. E os trigos ondeiam, verdes de luar, suspirando ao vento das duas, das três, das quatro horas... O canto do grilo, de tanto suar, perdeu-se...
(...) A Lua cai, vermelhusca e sonolenta. Já o canto está ébrio de luar, embriagado de estrelas, romântico, misterioso, profuso. É então que grandes nuvens lutuosas, debruadas de um malva azul e triste, arrancam o dia do mar, lentamente..."

"Platero e Eu"

Saturday, June 21, 2008

O canto do ausente

Ainda dizia o pobre mago que não valia a pena esperar e contar serenatas às vozes da ausência! Estava visivelmente desencontrado, vale sempre a pena escutar o silêncio e pedir-lhe salvação, para que um dia, também nós, sejamos um silêncio disposto a salvar o próximo... E na teoria muitos foram formulados sem entenderem a concepção da calmaria que os acompanha na sua estação inquisitória. Então sem nexo e direcções, derrubam os limites da progressão e o silêncio que em breve os colocaria num transporte para um porto mais satisfatório do ponto de vista dos seus sonhos.
Não deixam de haver centenas de espíritos indígenas a invadirem-me a alma com os seus ecos fanáticos de loucura, esperando que o seu companheiro mais próximo lhe transmita um bom conselho... Mal sabem eles que o seu desejo morrerá em breve disperso em silêncio!
M.M.

Tuesday, June 03, 2008

Nostalgia a todos os Troianos de hoje...

Helena saiu às ruas alastradas pelos ventos fortes que arrastavam consigo as poeiras vindas de Tróia, deu-lhes o nome de guerra celebrado em brindes clássicos de vitória, as paredes sorriam-lhe e saudavam calorosamente a sua passagem. A rainha ia cantando todos os séculos das suas sagradas lembranças e façanhas abençoando cada uma das suas descendentes, entregando-lhes amor maternal, se a diva lhe prestasse a devida homenagem nos cantos mais frequentados da sua memória.
A história prossegue as indicações normais e a estrada leva-nos ao encontro das suas preces... Assim surges pedindo a aflitiva "bleia"neste nosso cavalo de Tróia, a nossa tripulação observando os teus olhos revê em ti mais uma aliada, sobes os degraus que os nossos braços te estendem e ocupas o teu lugar, prossegues a nossa viagem, trazes contigo a tua sabedoria divina, e mal sabíamos nós que as raízes da rainha sentavam-se de novo nos comandos desta travessia, nem sabíamos que era sua progenitora... Lembro-me daquele dia como se de hoje se tratasse, consigo-o desenhar nas paredes fortificadas que nos protegem dos horrores que lá fora se vivem, vou contar-vos a imaculada nostalgia a penetrar as muralhas dos vossos corações, não admito receios são tempestades que nos arrasam de bondade... Lembro-me como se fosse hoje o silêncio timidamente a corromper-se sem sequer se prenunciar desejando acumular toda uma paz invulgar rendida a todos os seus encantos; as primeiras palavras frágeis, timidamente transmitidas como naqueles tempos em que éramos crianças inocentes e percorríamos num cuidadoso silêncio o caminho para o templo de Zeus numa caminhada em honra das virgens protectoras. Mais tarde recordo os espíritos unidos a abraçarem-se amistosamente entre o secretismo do misterioso cavalo de madeira, assim se formulava em definitivo a colectividade das tábuas erguidas e unidas que têm vindo a percorrer as estradas da "Magna Grécia" em direcção à possível derrocada de Tróia.
Neste cavalo todos éramos história e respirávamos sopros de realidade, escrevíamos pensamentos no ar, lascávamos a madeira criando os nossos quadros marcando-nos na eternidade histórica... Em outros momentos haviam mesas redondas onde se discutia pelas noites sob o zumbido inquietante dos insectos incómodos que lá fora tentavam penetrar as nossas muralhas defensivas, ignorando todos os sons os raciocínios prosseguiam lestos e rapidamente se fundiam entre nós, sempre lhe disse que preferia dádivas a burocracias... Ela pediu-me sátiras, eu simplesmente parei e estatelei-me lá bem no fundo num vago murmúrio sonolento, levantei-me mais tarde quando o murmúrio se dissipou entre todos nós, e agora nestes momentos tranquilos vos conto neste rasgo de nostalgia o percurso da nossa amizade.
Recentemente... Chegamos a todos os lados e vencemos imóveis, sem armas, nem gritos... julgavam-nos monumentos e criticavam-nos por incompatibilidades nos seus gostos artísticos e nós íamos retaliando em vagas daquele silêncio corrompido e todos se ajoelhavam prestando vassalagem à tua artimanha. Na verdade nunca pensámos deslocar-te até Tróia... Princesa helénica viemos neste cavalo passar as nossas vidas a rodar o espaço divino de Hellas, conquistar sabedorias, pensamentos e aliados que nos dêem uma viagem com mais proveitos e conclusões, por fim, talvez um dia Tróia se encontre diante dos nossos olhos e a dignificante vassalagem se arraste a teus pés...
Agora preparemo-nos todos para mais uma viagem, em frente gera-se o movimento dos rolamentos das nossas vidas.
De um castelo a sobrevoar os ares para uma terra de cavalos tróianos...
M.M.

Sunday, June 01, 2008

Chamamento!


A madrugada era um cenário de calmarias a suscitar no seu coração inspirações inquietantes. O orvalho friorento guardava as suas memórias desconhecidas pelas folhas transparentes do seu álbum de recordações. O som da madruga era silêncio recriando poções de harmonia, eram as suas imagens a vaguear naquelas derradeiras reuniões recheadas de sonhos contados em altivos tons sonoros, fechados em armários puxados ao lustro por categóricas passagens de silêncio. Puxa pelo efémero “Carpe Diem”, ansiando pelo desejo encantado que percorre todo o seu sangue abalado pelo palpitar ardente do seu coração abrindo brechas profundas tornadas corredores expansíveis de libertar o seu pensamento. Puxa pela sua vida livre, pelo seu cada momento experienciado que ele viciará os seus sonhos e manipulará todo um sistema normal de um ser humano e viajará nas asas sob o trote ligeiro do seu comando equestre até ao seu apetecido destino onde ela o esperava em razões de ânsia e sede de confronto com os seus braços. Era com ambição que delineava o trajecto dos seus sonhos, se fossem de encontro ao desejado destino já lá o esperava sentada na sua cama olhando fixamente as fissuras das paredes que estranhamente lhe davam indicações, um nome que a fizesse manter adormecida no seu tempo. Um toque violento na janela de tantas visões, suspeitas que surgiam num acumular de tantas atenções, de certa forma já esperadas; Levantou-se calmamente na esperança de visualizar, lá fora, aquele rosto distante… Estava de costas pouco se via, a neblina da madrugada tornara aquele rosto mais distante e misterioso do que nunca e estava tão perto do toque das suas mãos… Não hesitou, dirigiu-se pelos corredores outrora abertos e deslocou o seu pensamento em pegadas suaves pela casa, ouviu o estalar do trinco da porta e deslocou-a sob as reclamações da madeira de pinho que rugiam o incómodo provocado pelos soturnos desejos daquela noite. Esperou que ele se virasse, sem receio do sonho se tornar pesadelo, ela ficou expectante ao vê-lo rodar sobre o nevoeiro e de frente ao seu rosto sorriu-lhe e lançou a palma da sua mão ao vento e este lançou a semente, em segundos criara raízes e deslocaram-se para o interior dos corredores. Aquela alma tinha controlado os seus desejos e tinha concretizado um sonho tão longínquo, o seu rosto expressava os arrepios ternos do corpo, sensações que se deitaram na sua cama e adormeceram ao seu lado com um braço aconchegante entre os seus, e era tão real… De manhã entendeu que não passara de uma recriação da sua mente mas o seu pensamento passou a acreditar que tudo seria possível.

Wednesday, May 07, 2008

Insónias

Foi numa noite amena que duas doses frescas de cafeína infiltraram-se compulsivamente no meu pensamento e despertaram os instintos intensos de um apurado paladar, diria eu que me chegava em abundância um cheiro a palavras constantes, iguarias supremas, imensas, desejos escondidos infiltrados no meu corpo. E eu sei de verdade, nunca duvidem daquela maneira ou de outra conjugada em prenúncios realidade, que uma série de seres haviam construído um anfiteatro enfeitado de magia, coberto daqueles encantos vivos retirados de todos aqueles sonhos. Fizeram-se ouvir fortemente no seu trono em vastos reinos invasores, em contextos de paz atenção, não eram guerrilheiros cruzados, não tinham ânsias de desordens, apenas enunciavam mais um dos seus espectáculos. Naquela noite teria ganho um bilhete ícone, repleto de méritos desentendidos concentrado em rasgos extensos de orgulho; e ainda agora me cheiram todas aquelas palavras fortes e revendo vontades descrevo-as deste jeito tão sereno sob o rumo das palavras de outrem. Os lugares eram imensidão, encontravam-se vagos, tristes, dissipados, tantas figuras guardadas na recordação daqueles nobres castiçais, tantos recortes invisíveis, ausentes desencontrados em memórias vitais. Toda a filarmónica se expunha em locomotiva, em acertos constantes sob a batuta palpitante de tantos corações, e não se enganem em precipitadas conclusões foi uma noite emotiva sobre uma tempestade a chuviscar sensações. Trovoadas que bramiam o rumo de tantos olhares, encantos… Sobre seres que se entusiasmam de curiosidade e dos ruídos da pauta na tendência dos seus gestos, curiosidade revirada a verdade alusiva. Num manto de trapos deixou-se o sol dormir, e a lua brilhante e formosa ansiava despertar, os raios ainda sustinham vida no horizonte até que se deitou no manto e deixou de luzir; ao vento soltaram-se bandeiras simbolizando a lua encarregada de nos abençoar. A música desprendeu-se e virou natureza, os grilos cantantes rejubilavam magia, vozes, instrumentos, em harmonia dos deuses, doce e terna beleza diante das memórias de Mozart, Beethoven, Bach, Tchaikovsky a sussurrarem-me em silêncio o orgulho dos seus ensinamentos. Mas não divagava sozinho, as insónias tinham invadido outras casas, outros leitos… Veio-me visitar entre fileiras escondidas, permanecia num silêncio inquietante deveras preocupante para uma alma tão esbelta e encantada. Não fazia a menor ideia do que ali fazia, não sei sequer se sentia a sinfonia da mesma forma artística do que eu ou se veio em torturas recuperar em fôlegos de rebeldia alguma da súbita paz que aquela noite nos concedia. Não sei, esta é a resposta mais óbvia para esta alma petrificada, sem vida nem sentidos a vaguear simbolicamente sobre pegadas desencontradas num mar de caminhos perdidos. Sem reservas sentei-me a seu lado desfrutando dos momentos em que a música que se ouvia, ela estagnava reticências, eu sei, revia-se em consequências pelos tiques amordaçados em aliança com os sentidos prisioneiros deliberadamente refugiados nos contextos da sua euforia. O vento embalara os seus cabelos erguendo-se num estendal de movimentos, respirando magia em processos lentos que iam definindo as raízes da sua memória. Os segundos passaram rapidamente, ela levantou-se e nem reparou que alguém respirava ao seu lado; movimentou-se em passos largos dirigindo-se num rumo mais além... Saída do nada ouviu-se uma voz, em teores altivos invocando a sua alma dizia: “Dó, Ré, Mi, Fá, Só, Lá, Si, Dó”, após este “Dó” declarado a orquestra acabara o seu concerto, os grilos adormeceram atordoados por sombras de fantasia, os ícones reviraram páginas a preto e branco… E lá bem alto, aquela alma gritou fixando o seu olhar em mim “Dorme meu caro, dorme embalado neste palco de euforias sob a mestria de alguém que se ausenta mas que se sustenta das alegrias que vive cada vez que cá entra.”
06/05/2008 M.M.

Monday, April 21, 2008

Na breve explicação...


Era novo, de tenra idade por suposto, e todas as figuras visíveis ao meu redor tornavam-se fórmulas ingratas das quais não podia tocar; resignava-me e sentava-me modulando os astros com as mãos tocando-lhes como um espírito perdido ambicionando um desejo disperso sobre a esperança de um dia transformar-me num daqueles pássaros espaciais, sobrevoando os ares, batendo as suas asas formosas entregando-se à gravidade na sua totalidade e instalando-se por lá. Na verdade acreditava que as estrelas eram ninhos mágicos e que de lá todas as aves erguiam o seu vasto império de vigilância sobre o mundo, doía-me a alma quando via certos seres cercados em gaiolas onde as suas asas inadaptadas se reformavam de felicidade... Depois os meus olhos tornaram-se mais verdadeiros no sentido da percepção realística das coisas, sensações, continuava a descobrir as noites mirando todo um espaço, todas as luzes, mas os ninhos retiraram-se do vasto imaginário nocturno, enterrei-os em valas profundas junto ao mar. Todas as estrelas me pareciam verdadeiras, acima de tudo sinceras, penso e recordo as histórias que cada uma confessou em vibrantes desejos reflectidos pelas horas da madrugada. Depois tornei-me ainda mais velho, diz a evolução que subimos um degrau e nos consideramos homens perfeitamente racionais e com graus elevados de maturidade, e revi-me a pensar na paisagem divinal que da passagem às horas me iam entregando. Eu aceitava cada luz celestial, nem uma teria razões para se considerar ignorada. Nessas alturas modificava-me, de entre habitats, implementavam-se confusões intemporais numa vida de revoltas amenas e de lágrimas sofríveis que desaguavam sobre as marés vivas palpitantes de um coração aclamando e desejando o surgir imediato do verbo descansar. Ficava entre o mar e a areia circundando a mesma em pegadas de vida, rejubilando mágoas em diversas direcções, reflexos de traumatismos de uma lua encoberta pela maldita tempestade. Na pós-tempestade renasci, sobre deslumbres permanentes de entre as escolhas naturais que se seguem aos caminhos dos enganos. A lua passou a ser mar e natureza, passou a ser estético, perfeição e sonho construído de certa forma desenvolvido para uma relação de amizade. O mar, a natureza e o céu serão triângulos mágicos, serão tudo sobre uns olhos enfeitiçados pelo seu eterno namoro da terra para o céu. O vento aclamou as suas boas vontades sobre uma noite carregada de beleza, deitei-me no chão num prado verde encantado de esperanças, as vibrações eram electrizantes diante de uma paisagem calma, terna e de paz. Foi mais um encontro sobre o prado das confissões onde todo o mundo é uma soma de ilusões onde apenas eu, as estrelas e a lua somos vozes da humanidade.
21/04/2008
M.M.

Saturday, April 12, 2008

No labirinto das conferências.

Havia, ainda existe, um lago de evasões pintadas com cores abstractas infligidas pela doença da saudade, aquela sensação de inquietação danada irreversivelmente plantada naquele chão de esperanças fúnebres numa mistura envolvente com as cores vivas dos seres vivos e formosos que a tantas vidas transformou. Nesse espaço aberto ao vento coberto pelos zumbidos retorcidos da poluição rolam os cochichos das páginas que se desfolham em curiosidade, saem à rua o bando das amarguradas más-línguas que nos olham em desalentos terrores de entre os nossos ternos louvores a sobrevoar as graciosas correntes das temperanças que das lembranças nos recordam aqueles instantes formulados por uma dinastia vaga repleta de magia. E nos fluidos abstractos, sobre as pedras que se resguardam nos confrontos com as águas mortas, rodopiam uns patos mansos ou bravos, é incerto e confuso que nem eu sei, que à nossa vista tão longínqua serão imagem ausente ou muito vazia, passam por símbolos carismáticos daquelas tardes de preguiça serena, da conversa amena em que os nossos corpos habitavam em tranquilidade na gruta das estalactites e estalagmites com o seu nome de amizade. Um passo é presença e será sempre lembrança desta enorme conferência que o mundo numa compressão de corpos entregou, respirando ares que a essência de uma alma nos pode oferecer num espaço de minutos simples e inesquecíveis.
12/04/2008
M.M.

Monday, April 07, 2008

Aquele que não tem nome.

Quando fechei olhos ela apontou-me a sua luz, não podia fugir, fez-me prisioneiro debaixo de um manto de sensações.
Vivi prisioneiro das suas decisões, sobre as amarras que eram incandescentes como o fogo austero que incendiava a caserna dos meus sonhos; a pedra ganhava vida e ia diminuindo o espaço velozmente, toda uma substância ganhara sentimentos de destruição e a abolição rugia os seus intuitos de morte fria. Palpitava a batuta do medo, mas de nada adiantava, não podia fugir... Não podia! Mas a luz ganhou vida cicatrizando toda uma dor vaga e longa sobre as gotas que subitamente por mim escorriam... Ela segurou-me na mão e em sussurros de calmaria agitou a voz grave repetindo agitadamente notas divinais, era oceano a enconder o grande sol, sei lá, era algo de grande simbologia, seria Vénus e Marte talvez, que vieram contemplar a sua força e harmonia. E da tortura que em segundos nos mata surgiu aquele calor no doce peito, tal como se fossemos ave moribunda a contemplar o mundo sobre o abismo. Garanto-vos todos se salvariam...! Na conclusão não entendi a tal companhia, desejou-me trevas, entregou-me o paraíso... Não sei quem seria! Mas de uma coisa não tenho dúvidas, sem ele eu hoje não tinha o alento e a vontade de o rever.
07/04/2008
M.M.

Sunday, April 06, 2008

Sou um animal estranho na madrugada!

Nem sempre somos unânimes e cordiais no regresso do desvastante temporal. Naquela noite carregada de sentimentos desgastantes, onde a amargura exclamou ritos e gritos, entreguei-me em passos sofridos sobre aquela estrada de macuas. Estávamos perdidos, sempre o soube, olhavas-me como se o teu fim fosse um chamamento prévio, um ponto sem retorno. Agarrei-lhe na mão que em tremor arrastou o vento e congelou-me a visão... Durante alguns segundos acreditei que a luz fosse mais reforçada e que toda a sua vontade nos levasse à vaga ideia de um choro requisitado pela sábia conquista da tristeza. O túnel é vago, uivos são entoados entre ecos que nos desprezam… Aproximou-se, juro-vos que me mantive intacto…
Depois acordei e a recordação é fotografia em branco!
06/04/2008

Monday, March 24, 2008

A ausência do sempre presente...

Esse livro é ausência do sempre presente que em devaneios foi concedido ao mundo; é peripécia dos guerreiros velozes, de corpos atrozes, a combaterem as linhas impostas em mim. É chuva impiedosa vestida do nada, que em pensamentos longos nos circulam sem fim.

E o sempre presente se sustenta entre linhas e cores, sobre sorrisos e lágrimas, as palavras de um adorno eterno. Da escuridão surgiu brilho em formato de sonho e o brilho devolveu-nos a divina esperança, são as lágrimas desse livro encantado, brilhando em nós sorrisos e amizades.

E se quisesse que um dia fosse livro,

Chamar-te-ia à minha noite terna e sagrada para em breves segundos alimentarmos a nossa alma com a suavidade destas palavras…

M.M.

Monday, March 03, 2008

Enlace: Do céu ao Mar

Gota de chuva, voas tu sob os suspiros de vento, ergues-te e levitas sem temer a reacção de todos estes elementos que a mãe natureza nos concedeu. Escreve-se nos céus, suspiro das lágrimas de vida, que o medo não te possua, vamos escrever a passagem das nossas vidas.


O medo não me possui, sou eu que o possuo às vezes. Hoje é diferente. Quero deixar marcas presentes neste céu que ergo no auge para deixar cair, lentamente, pequenas gotas invisíveis de palavras. E estas, apenas estas, fazem parte deste agora. A passagem de tudo é como as ondas daquele mar que aconchega sussurros nunca antes ouvidos. Antes que a voz se cale ou enfraqueça, vamos escrever a passagem das nossas vidas.

Dos céus revelando os seus encantos, vai-se descrevendo em anonimato; entre pensamentos e devoções vou entendendo nestas linhas a voz das suas exaltações, os segredos encantados e declaradamente apagados dos seus pensamentos. Sente este mar, olha à tua volta, tantas gotas, tantos segredos, tantas companhias desejadas, tantos aconchegos e tanta solidão, junta-te neste grande mar... Torna-te desejo, abraça as gotas dos teus sussurros…

O meu olhar é capaz de ver e sentir tudo isso; até sente mais além: vê o fundo deste mar. É tranquilo e isso apazigua o que há cá dentro… O barulho das gotas a cair já não incomoda, o segredar dos segredos já não existe. Só há desejo, desejo de abraçar estas gotas que me aparecem nas mãos, sem euforia ou distorção. Elas aparecem, porque hoje há o desejo de me juntar a este grande mar e de me enlaçar na voz dos meus surpresos sussurros.

Na chegada a bênção das boas vindas, aclamando suspiros de felicidade, sensação de uma casa habitada nunca antes deixada pelos instintos fortes da sua emoção. Instala-te nestas belíssimas barreiras de coral, divaga entre sonhos e desejos... agora conta-me em palavras de mansinho, ainda no presente te agonia a dolorosa permanência da solidão?


Não sei bem. Não sinto bem. Ela só aparece quando não estou dentro deste mar ou desta casa ou quando todas as nuvens ficam carregadas de chuva. Mas depois as gotas vão caindo e eu vou ficando melhor, o escuro das ondas vai desaparecendo e eu vou ficando melhor. Fico melhor quando estou segura, quando olho para as luas que me guardam, quando passeio pelas areias branqueadas do fundo do mar... Fico melhor quando falo de mansinho, sem pressas neste caminho.
Agora, diz-me, como é sentir as gotas a unirem-se a este mar?


É sentir a minha chegada prematura, a escuridão que invade a longa imensidão do meu peito, a ausência do que nos foge por entre as mãos e passam a meras algas perdidas sem destino, é guardar um álbum de recordações de entre as réstias das mágoas que nos instruem... é a tristeza de saber que um dia voltarei à rancorosa tela, onde tu me pintas rodeada de abraços e de coração solitário, de olhos tristes e adormecidos... Em breve chegará a hora da minha partida, tomarás as rédeas deste reino, torna-te fogo, torna-te luz... que lá de cima te pintarei!

Não há breves nem outros tempos condicionais. Só há uma tela que eu vou esboçando com traços de tinta de chuva. Enquanto pinto, as gotas caem-me para os olhos adormecidos e dou asas à criação. Com ou sem mérito, pinto. Pinto-te. Rodeado de abraços tão fortes, mas sem rancores ou olhos tristes. Os teus brilham quando encontram o primor dos meus traços ou as ondas da tela que inspiram os meus e os teus sussurros. Também os ouves, porque és sábio. E a voz, pequenina, fala-te do sonho e da esperança, fala-te do dom das gotas invisíveis de palavras.
Gostas da música?


Marco Martins & Catarina 04/03/2008

Á primeira de muitas parcerias... um muito Obrigado!

Sunday, February 24, 2008

Vörösmarty Mihály (1800-1855)

Poet and dramatist who helped make the literature of Hungary during the era (1825–49) of social reforms. By ridding Hungarian literature of overwhelming classical and German influence, he made it national not only in language but in spirit.

Born into an impoverished noble family, Vörösmarty soon had to provide for himself. From the age…

Quimera/Ábránd


Por teu amor, / Szerelmedért
destruía a razão / Feldúlnám eszemet
e,com ela, todos os pensamentos, / És annak minden gondolatját,
e das doces imagens região; / S képzelmim édes tartományát;
alma soltava aos ventos, / Eltépném lelkemet
por teu amor. / Szerelmedért.

Por teu amor, / Szerelmedért
árvore era no cume / Fa lennék bérc fején,
de rocha,verde folhagem vestia, / Felölteném zöld lombozatját,
sofrendo raio, temporal em fúria, / Eltűrném villám s vész haragját,
e no Inverno morreria, / S meghalnék minden év telén
por teu amor. / Szerelmedért.

Por teu amor, / Szerelmedért
pedra da rocha era, / Lennék bérc-nyomta kő,
ali no fundo em chama ardente, / Ott égnék földalatti lánggal,
numa dor insuportável deveras, / Kihalhatatlan fájdalommal,
sofrendo mudamente, / És némán szenvedő,
por teu amor. / Szerelmedért.

Por teu amor, / Szerelmedért
alma solta um dia, / Eltépett lelkemet
a Deus pediria que devolvesse, / Istentől újra visszakérném,
ornando-me com virtude maior, / Dicsőbb erénnyel ékesítném
e, alegre, eu ta daria, / S örömmel nyújtanám neked
por teu amor. / Szerelmedért!


Vörösmarty Mihály (1800-1855), trad. Ernesto Rodrigues.

Thursday, February 21, 2008

O Eterno namoro entre a estrela e o mar!

O que seria de ti eterna luz cintilante se vivesses sem a bravura deste mar? Sob o teu olhar intenso descreves os teus passos mágicos na areia encharcada pelos carinhos que a tua água te presenteou, sentes o ruído dos cochichos silenciosos a entregarem-se à divina orla das ondas abençoadas, respiras esse cheiro de uma melancolia deveras intensa, poderás algum dia não retratar este quadro como uma monotonia tão feliz? Estão tão sós e tudo permanece nos seus alcances, nos palmos de terra que se esvoaçam pelo ar… A proximidade é bem diminuta, julgamo-los longínquos na sua raiz de visões, na sua contabilização suprema de quilómetros sem fim.

Veneram-se congratulando-se desse amor, amam-se invocando Vénus em todos os altares percorridos em terra ou mar, aclama-se que os seus espíritos se transformem num só corpo celestial manchado em brandas pinceladas de um brilho harmonioso; num corpo marítimo erguido por outras tintas maltratadas, vítimas de um desespero ruidoso para a alcançar.

Sobre esta noite que um Inverno de fria não implementou, baptizo-os alegremente sobre o coroado de algas dispersas entre braços, o amor, a amizade e o vosso luar. Onde as mãos destes seres se cruzam e se desejam unidas até o dia tristemente raiar.

O que seria de ti sem esta noite?

18/02/2008

M.M.

Wednesday, February 06, 2008

Desejo


Há dias assim em que as flores germinam sobre os teus desejos e se exaltam em simples fios dourados sobre o céu. Depende da estação, aquela vibração harmoniosa a acarinhar o cruzar dos vossos olhares sobre o sol, sobre os pingos frescos de chuva. Há dias assim em que saltitamos de nuvem em nuvem aclamando as boas novas deste grande aro de amizade. Se outrora caísse no vazio da atmosfera nua ele teria um abismo na sua idealização de desejo, agora teria uma quantidade de asas que o fariam retornar aos saltitos tranquilos. Há dias assim em que retornamos da base de escassez das palavras e pensamos nelas e o que a ausência lhes guarda, pensamos nas cores mais brilhantes para as brindar no seu regresso, algo com apoteose; recebemo-las com sorrisos, abraçamo-las como se nunca tivessem existido neste mundo de festivais eloquentes. A sonoridade é profunda e harmoniosa, estas entoações de firmeza e de verdade múltipla dão-nos tragos de calmaria. Há dias e dias, há uns que nem existem, outros que guardamos em momentos doces de nostalgia, há outros em que as flores murcham de desgastes constantes e existem alguns como estes que acredito fielmente que jamais serão esquecidos. Há dias assim em que o desejo se torna tema de uma história.
M.M.
06/02/2008

Monday, January 07, 2008

As sete chaves de Orlög

O pequeno mestre viajava pelos ares, mas de nada se apercebia, a sua anestesia temporária rejeitava todos os elementos, todo o tempo. O tempo que não podia ver, ouvir, pesar, o tempo que não podia dividir e desenvolver num laboratório. É um sentimento sentido de nos transformarmos no que somos em vez do que éramos há um segundo atrás, transformarmo-nos no que seremos noutro segundo. O pequeno mestre equiparava-se aos hopis na sua maneira de ver o tempo, via-o como uma paisagem, está atrás e à frente de nós. Soou um alarme, o seu relógio mede-se a si próprio, o objectivo do seu relógio é outro relógio.

E o que era o pequeno mestre no nanossegundo anterior? O seu relógio teria que dar uns consideráveis passos atrás, onde encontraríamos o brilho dos seus olhos a descer de cena tal e qual como umas cortinas a fecharem-se rispidamente quando acaba mais uma peça de teatro, desde então o pequeno mestre encontrava-se inconsciente e aí alguém intrometeu-se nos seus pensamentos sonhadores, uma voz escondida entoava-lhe palavras:

- Sabes de onde vens? Precisarás de o saber, para obteres certezas acerca do teu destino!

O pequeno mestre tremia na sua inconsciência, eram questões que o seu silêncio não poderia responder. Porque se tinha ele tornado um vulto com rastos apagados? Porque não tinha reacções para além da sua pele arrepiada que de longe não saberia sequer um alfabeto digno das respostas essenciais.

- Calma, estás nervoso, nós sabemos, calma… Somos a bússola que orienta os teus sonhos daqui em diante, enviaram-nos de Orlög, somos a combinação de factores e acontecimentos que determinam o presente, em função do passado, e cria o futuro, a partir do presente. Terás consciência do teu presente? Saberás de quem são essas asas que te arrastam pela atmosfera? Então escuta-nos, seremos a tua consciência e a tua protecção quando os teus olhos de novo surgirem, escreveremos a tua Wyrd (Destino pessoal) sentadas na brilhante constelação de Órion onde teceremos com cuidado e atenção o fuso da Deusa Frigga (Senhora do Céu e do Tempo, que de tudo sabia, mas de nada falava). Mas cuidado há coisas que nem as Deusas de destino conseguem corrigir num temporal, as palavras são sentenciadas pelos fortes encantamentos de Frigga, o fuso é seu, nós só tecemos esta grande teia que se estende sobre a Terra, de leste a oeste, acompanhando as trajectórias do sol.

O pequeno mestre mostrava-se cada vez mais apreensivo nos seus movimentos e rebolava o seu nervosismo pelo dorso da ave gigante, o seu rosto mostrava-se cada vez mais esgotado, carregado de gotas febris de um suor que derivava as palavras das nobres Nornes (Deusas do Destino).

- Não te esqueças, vais-te lembrar dos nossos nomes quando olhares para Órion, Urdh (Aquilo que foi), Verhandi (Aquilo que está sendo) e Skuld (Aquilo que virá a ser). Somos o ensinamento da humanidade, a compreensão das lições do passado, o uso das mesmas no presente para que no futuro evites os transtornos do passado. Quando acordares passa a mão pelo que te rodeia e sente o bem e o mal, aí saberás tirar partido da tua consciência educada no presente.

Passados alguns minutos, acordou, abriram-se as portas do seu olhar, lá no alto brilhavam estrelas encadeadas e sem saber ao certo só soube dizer “Aquilo que foi, aquilo que está sendo e aquilo que virá a ser”.

M.M.

Friday, January 04, 2008

De volta a uma casa!

Não consegues ir para casa outra vez... Porque já lá não está!
Um quebrar de jejum neste novo ano por onde tenho andado desaparecido, esquecido, erguido de vários pensamentos... Voltarei em breve com os mistérios dos segredos guardados a sete chaves, sete... Um Feliz 2008 para todos!