Saturday, June 21, 2008

O canto do ausente

Ainda dizia o pobre mago que não valia a pena esperar e contar serenatas às vozes da ausência! Estava visivelmente desencontrado, vale sempre a pena escutar o silêncio e pedir-lhe salvação, para que um dia, também nós, sejamos um silêncio disposto a salvar o próximo... E na teoria muitos foram formulados sem entenderem a concepção da calmaria que os acompanha na sua estação inquisitória. Então sem nexo e direcções, derrubam os limites da progressão e o silêncio que em breve os colocaria num transporte para um porto mais satisfatório do ponto de vista dos seus sonhos.
Não deixam de haver centenas de espíritos indígenas a invadirem-me a alma com os seus ecos fanáticos de loucura, esperando que o seu companheiro mais próximo lhe transmita um bom conselho... Mal sabem eles que o seu desejo morrerá em breve disperso em silêncio!
M.M.

Tuesday, June 03, 2008

Nostalgia a todos os Troianos de hoje...

Helena saiu às ruas alastradas pelos ventos fortes que arrastavam consigo as poeiras vindas de Tróia, deu-lhes o nome de guerra celebrado em brindes clássicos de vitória, as paredes sorriam-lhe e saudavam calorosamente a sua passagem. A rainha ia cantando todos os séculos das suas sagradas lembranças e façanhas abençoando cada uma das suas descendentes, entregando-lhes amor maternal, se a diva lhe prestasse a devida homenagem nos cantos mais frequentados da sua memória.
A história prossegue as indicações normais e a estrada leva-nos ao encontro das suas preces... Assim surges pedindo a aflitiva "bleia"neste nosso cavalo de Tróia, a nossa tripulação observando os teus olhos revê em ti mais uma aliada, sobes os degraus que os nossos braços te estendem e ocupas o teu lugar, prossegues a nossa viagem, trazes contigo a tua sabedoria divina, e mal sabíamos nós que as raízes da rainha sentavam-se de novo nos comandos desta travessia, nem sabíamos que era sua progenitora... Lembro-me daquele dia como se de hoje se tratasse, consigo-o desenhar nas paredes fortificadas que nos protegem dos horrores que lá fora se vivem, vou contar-vos a imaculada nostalgia a penetrar as muralhas dos vossos corações, não admito receios são tempestades que nos arrasam de bondade... Lembro-me como se fosse hoje o silêncio timidamente a corromper-se sem sequer se prenunciar desejando acumular toda uma paz invulgar rendida a todos os seus encantos; as primeiras palavras frágeis, timidamente transmitidas como naqueles tempos em que éramos crianças inocentes e percorríamos num cuidadoso silêncio o caminho para o templo de Zeus numa caminhada em honra das virgens protectoras. Mais tarde recordo os espíritos unidos a abraçarem-se amistosamente entre o secretismo do misterioso cavalo de madeira, assim se formulava em definitivo a colectividade das tábuas erguidas e unidas que têm vindo a percorrer as estradas da "Magna Grécia" em direcção à possível derrocada de Tróia.
Neste cavalo todos éramos história e respirávamos sopros de realidade, escrevíamos pensamentos no ar, lascávamos a madeira criando os nossos quadros marcando-nos na eternidade histórica... Em outros momentos haviam mesas redondas onde se discutia pelas noites sob o zumbido inquietante dos insectos incómodos que lá fora tentavam penetrar as nossas muralhas defensivas, ignorando todos os sons os raciocínios prosseguiam lestos e rapidamente se fundiam entre nós, sempre lhe disse que preferia dádivas a burocracias... Ela pediu-me sátiras, eu simplesmente parei e estatelei-me lá bem no fundo num vago murmúrio sonolento, levantei-me mais tarde quando o murmúrio se dissipou entre todos nós, e agora nestes momentos tranquilos vos conto neste rasgo de nostalgia o percurso da nossa amizade.
Recentemente... Chegamos a todos os lados e vencemos imóveis, sem armas, nem gritos... julgavam-nos monumentos e criticavam-nos por incompatibilidades nos seus gostos artísticos e nós íamos retaliando em vagas daquele silêncio corrompido e todos se ajoelhavam prestando vassalagem à tua artimanha. Na verdade nunca pensámos deslocar-te até Tróia... Princesa helénica viemos neste cavalo passar as nossas vidas a rodar o espaço divino de Hellas, conquistar sabedorias, pensamentos e aliados que nos dêem uma viagem com mais proveitos e conclusões, por fim, talvez um dia Tróia se encontre diante dos nossos olhos e a dignificante vassalagem se arraste a teus pés...
Agora preparemo-nos todos para mais uma viagem, em frente gera-se o movimento dos rolamentos das nossas vidas.
De um castelo a sobrevoar os ares para uma terra de cavalos tróianos...
M.M.

Sunday, June 01, 2008

Chamamento!


A madrugada era um cenário de calmarias a suscitar no seu coração inspirações inquietantes. O orvalho friorento guardava as suas memórias desconhecidas pelas folhas transparentes do seu álbum de recordações. O som da madruga era silêncio recriando poções de harmonia, eram as suas imagens a vaguear naquelas derradeiras reuniões recheadas de sonhos contados em altivos tons sonoros, fechados em armários puxados ao lustro por categóricas passagens de silêncio. Puxa pelo efémero “Carpe Diem”, ansiando pelo desejo encantado que percorre todo o seu sangue abalado pelo palpitar ardente do seu coração abrindo brechas profundas tornadas corredores expansíveis de libertar o seu pensamento. Puxa pela sua vida livre, pelo seu cada momento experienciado que ele viciará os seus sonhos e manipulará todo um sistema normal de um ser humano e viajará nas asas sob o trote ligeiro do seu comando equestre até ao seu apetecido destino onde ela o esperava em razões de ânsia e sede de confronto com os seus braços. Era com ambição que delineava o trajecto dos seus sonhos, se fossem de encontro ao desejado destino já lá o esperava sentada na sua cama olhando fixamente as fissuras das paredes que estranhamente lhe davam indicações, um nome que a fizesse manter adormecida no seu tempo. Um toque violento na janela de tantas visões, suspeitas que surgiam num acumular de tantas atenções, de certa forma já esperadas; Levantou-se calmamente na esperança de visualizar, lá fora, aquele rosto distante… Estava de costas pouco se via, a neblina da madrugada tornara aquele rosto mais distante e misterioso do que nunca e estava tão perto do toque das suas mãos… Não hesitou, dirigiu-se pelos corredores outrora abertos e deslocou o seu pensamento em pegadas suaves pela casa, ouviu o estalar do trinco da porta e deslocou-a sob as reclamações da madeira de pinho que rugiam o incómodo provocado pelos soturnos desejos daquela noite. Esperou que ele se virasse, sem receio do sonho se tornar pesadelo, ela ficou expectante ao vê-lo rodar sobre o nevoeiro e de frente ao seu rosto sorriu-lhe e lançou a palma da sua mão ao vento e este lançou a semente, em segundos criara raízes e deslocaram-se para o interior dos corredores. Aquela alma tinha controlado os seus desejos e tinha concretizado um sonho tão longínquo, o seu rosto expressava os arrepios ternos do corpo, sensações que se deitaram na sua cama e adormeceram ao seu lado com um braço aconchegante entre os seus, e era tão real… De manhã entendeu que não passara de uma recriação da sua mente mas o seu pensamento passou a acreditar que tudo seria possível.