Monday, July 09, 2012

O livreiro feirante (Última página)

Tenho pouco a dizer acerca do encerramento desta primeira etapa como livreiro expositor mas trago para casa mais algumas recordações, umas boas, outras menos positivas. Os meus pés começaram, a duas horas do encerramento, a pedir uma total insolvência, os dedos resmungavam, a alma adormecia, os clientes desapareciam, o silêncio começava a predominar. Final. Hoje mais uma criança conquistou-me, a pequena Margarida de olhos da cor do mar e com os seus 20 meses fugiu e escondeu-se atrás da prateleira da culinária e por lá refugiou-se na sua vergonha. A mãe perguntou-lhe porque tinha ela vergonha do senhor dos livros, ela manteve-se calada... De saída do expositor a mãe disse "olhe apaixonou-se", a pequena virou-se, disse-me adeus e mandou beijinhos e o senhor dos livros sorriu. As crianças na sua inocência são de facto maravilhosas e o senhor dos livros achou aquilo tão terno e não deixou de pensar que estaria ali um belo "arranjinho" para o meu Afonso. O pequeno faz hoje três meses e já ando a tratar de arranjar-lhe um par. 
Uma senhora chegou a 5 minutos do encerramento vinha com um perfume gasto e pouco apetecível ao meu olfacto, pode ter sido essa a razão para me ter dado este ataque alérgico... A senhora veio falar ao livreiro, o livreiro cordialmente cumprimentou-a... a senhora disse "ah vim de propósito para buscar este livro ("Arrisca-te a Viver" de Gustavo Santos)" e o livreiro pensou "oh podia ter vindo por algo melhor". A senhora ficou escandalizada pois o livro já não estava em promoção então, contornou e começou a regatear "Olhe pode fazer-me um desconto de 5€?" o livreiro estagiário pensou "Para além de perturbar o meu olfacto, de escolher algo pouco apetecível para o meu gosto literário ainda vem pedir um desconto?", "Peço imensa desculpa mas isso não é possível." a senhora resignou-se, pegou no livro e voltou a colocá-lo na prateleira umas 10 vezes... sim, tive oportunidade de contar... e, no entretanto, não levou o livro, abandonou o local e desapareceu. Final! "Estávamos encerrados".
Depois do fecho de feira fui conhecer a grande conquista de um grande amigo, "ah que bom, conquistou uma sorridente", pensei, é, de tal forma, maravilhoso quando se vê algo grandioso, compartilhado e romântico. É encantador sentir aquelas boas energias a saltitar em nosso redor... sinal que podemos continuar a acreditar mas é, acima de tudo, gratificante ficar feliz pelos outros sem o dizer da boca para fora. E então dei-me conta, ele conquistou uma sorridente e que bom que é vê-los a sorrir como ninguém.
Amanhã é outro dia e saberemos por lá que sorrisos ou tristezas o livreiro encontrará, o tempo acabará por dar-nos a resposta seja ela sorridente ou tristonha mas ela surgirá, o tempo não perdoa e responde. As perguntas são para ser respondidas por mais banais que sejam e é dessa forma que deve ser porque afinal de contas o estagiário dos livros não gosta de palavras em vão.

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