Friday, August 17, 2012

Memorial da evolução

Há particularidades que pouco nos escapam e no meu caso como livreiro tenho vindo a reparar que não há uma designação única para o devido chamamento. De entre as horas que passei a catalogar pessoas e as pessoas a catalogarem-me a mim cheguei à conclusão que há pessoas estranhas. Quem não saberia disso? eu próprio sou uma delas. No chamamento há quem me tome por menino, o rapaz, o senhor, o homem. Não sei bem se estas derivações vêm consoante a imagem ou da perspectiva de cada um. Posso adiantar que a tirada do "não faças isso, o homem ralha contigo" tornou-se das mais incomodativas da história, o verbo ralhar soou a angústia, só tive tempo de retaliar dizendo "não faço mal a ninguém minha senhora" mas... "não deixe o seu filho varrer-me as pilhas de livros e espalhá-las pelo chão", pensei. "Menino", tomado pelas mães dos pequenos autoritários, responsáveis, daqueles que levam uma boa educação com regras para tudo e mais alguma coisa. O "rapaz" para a gente do povo, do despachar, do viver a alma, do nunca esquecer o muro das lamentações. O "senhor", que horror, que perspectiva tão idosa embora seja aceitável no politicamente correcto. Há quem ainda me tome por livreiro, casos raros, há ainda as crianças que julgam que tudo isto se passa numa Biblioteca e, portanto, bibliotecário. De entre tantos nomes e feitios não posso deixar de ver uma certa equivalência com a vida... menino, rapaz, homem, senhor... acabamos todos por viver neste passeio de tempestades e bonança do qual chamamos vida. Quem diria que tudo passa tão rápido, numa velocidade estonteante... 27, minha gente, 27, é a alma que começa a amadurecer e tornar-se histórica, é a vida a correr e os passos de magia a tardarem por aparecer. Neste dia tão particular acabo "Crime e Castigo", avanço para "Irmãos Karamazov" e tenho em vista investidas bem assentes no mercado russo com Vladimir Nabokov, Tolstoi, Anton Tchekhov, Mikhail Bulgakov e Ivan Turguéniev. Ando a ganhar um fascínio pela literatura mais pesada dos clássicos russos deve ser da idade, deve ser. Uma coisa é certa após ultrapassar esta vaga pode ser que "As cinquenta sombras de Grey" deixem de assombrar a livraria.

O livreiro estagiário,
Marco Martins

2 comments:

ser.so.ser said...

Há dias que nos levam a estas analepses.. E acho que Tolstoi te pode dizer algo também...

"a morte de Ivan Ilitch" (o t+itulo é um bocadinho pesado, mas vê a sinopse...

http://www.essejota.net/index.php?a=vnrhrlqqvkuivvqluprhrsqhutrhqqqkqruiqjrorsrlqhvvrhqqquugrmqtrk&c1=14

Empregos no Mundo - Oportunidades Estrangeiro said...

Fui ver se o tinha numa colecção de livros de bolso que fiz e confirma-se está ali para o ler de seguida :) também gostas dos clássicos?