Wednesday, September 21, 2016

Rökning Dödar


Ele estava farto e cansado de ouvir o seu relógio de hora a hora a tocar entusiasticamente, era algo verdadeiramente aborrecido, que o desconcentrava sem parar. Então puxava de mais um cigarro e queimava a loucura que as horas lhe traziam de bandeja, vinham embrulhadas em reflexos prateados, tudo muito requintado, simbolismos puros de glamour. O processo foi levado por uma simplicidade brutal, puxou pelo seu vício e ateou a loucura em chamas. O nobre vício que iria queimar os seus pensamentos, ou faria o renascimento dos mesmos? Digamos que muito pensou sobre as nuvens de fumo expelidas pelo pequeno mestre.
Tratava-se de algo idêntico a um sorteio de uma tômbola gigante; roda menina essa coisa circular que nunca mais pára e dir-te-ei o que a loucura assim mo diz. Rodou energicamente e parou, tirou a etiqueta dourada e leu bem alto: “as dores enunciadas pelo seu coração”, então colocou a etiqueta a dormitar no seu bolso e voltou a rodar, desta vez mais enfraquecida, parou e leu bem alto, entoando a sua voz fina: “as gargalhadas que ficaram para dar em algum minuto da sua semana”, e colocou a indicação embrulhada no seu outro bolso. E voltou a rodar, cada vez com menos energias, a tômbola mágica quase não se moveu, retirou a etiqueta e leu baixinho “a importância que dás a certos tópicos”. Então o pequeno mestre, olhou-a atentamente a colocar a etiqueta enrolada na primeira, juntou-as e colocou-as no mesmo bolso. Então questionou-a: “Porque quero eu ver essa roda a girar se só me saem etiquetas douradas com pensamentos sem sentido?” Ela, espantada pela questão repentina, respondeu timidamente: “És tu que escolhes as etiquetas”, perplexo encolheu os ombros resignado, queimando as réstias da sua loucura, e questionou mais uma vez: “Porque enrolaste a primeira etiqueta à última?”. Ela calmamente sorriu, e em poucas palavras, as que lhe foram permitidas, disse: “É a razão de tudo, no silêncio…”.
Desapareceu a nuvem de fumo pela madrugada, guardando no silêncio o enquadramento das etiquetas da loucura. E o relógio que não pára de tocar…e esta loucura que na Escadinávia é condenada pelo termo Rockning Dödar.
M.M.

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