Friday, June 22, 2012

Re-Post: Medo (2006)

Um amigo virou-se para mim e disse: "lembras-te quando ganhaste aquele prémio literário e fizemos uma data de quilómetros de ida e volta quase sem parar? Quando ganhas outro?" resposta simples, teria de participar. Isto não é quando se quer, é quando dá-me "ganas". No entanto lembrei-me que esse texto tinha vindo dos primórdios da tua existência, eras um bebé a precisar de atenção e eu comecei por educar-te com visões mais tristes do que felizes. Como pai assumo a minha responsabilidade, cresceste demasiado depressa... Mas vamos lá relembrar o texto premiado e que tinha fortes lacunas na sua escrita.

"Medo de me enclausurar num universo vazio, de palavras simbólicas sem nexo... Terror de sentir passos de solidão mórbida a rastejarem numa angústia desmedida. A resposta revolucionária de alguém que se sente surge sempre na eternidade! Imagina que o mundo chama por ti, escutas uma espécie de sirene irritante que capta as tuas sensações inquietantes, sentes um arrepio assombroso e olhas à tua volta, segues o teu caminho cumprindo as regras seguras impostas na convenção artificial que representas, entras num mundo obscuro onde te sentes em comunhão com a paz. Vinda de um nada, a tristeza chegou, depois instalou-se sem atribuir motivos, razões, senta-te... olha para ti de uma forma terna, piedosa e mantém um silêncio divinal que te deixa em plena confusão sentimental, surge um aglomerado "emocionista" de nível superior. A tristeza chora rios de água quente que vão desaguando, segundo após segundo, num chão que não se surpreenderia com a novidade, recebia com amizade mais uma de uma infinidade... com simpatia abraçava-as como sempre o fez e divinalmente enchaguava-as, tornando-as parte de um só elemento, aceitando-as. Do outro lado, brilha um olhar, escuta-se um ritmo cardíaco acelerado ao som da batuta, o ar congela, levantas-te, corres em direcção a uma parede branca, lanças as tuas mãos na sua direcção, fechas os olhos com firmeza e convicção, a tristeza segue-te, dissolve-se em ti e une-se ao teu espírito. Alma que amarguradamente chora em comunhão com a paz. Como um corpo morto deixa-se cair no imenso chão que é seu, e descansa na imensa paz, dorme como um anjo caído dos céus, de frágil aparência mas de espírito enorme.
Nas ruas amarguradas da vida há sempre uma tristeza que vagueia por aí, que nos consome... não me importa que não te dêem atenção, não me importa que não te vejam chorar, não me importa! Dar-te-ei a minha mão... fecha os olhos por instantes de forma segura, não tenhas medo eu estou aqui...
Não voes alto, as tuas asas verdes levariam tudo de meu contigo!
M.M"

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