Sunday, December 23, 2007

Comunicado da Lua II

Boa noite, cá de cima a lua brilha na sua plenitude diante das fabulosas aberturas que o céu hoje nos oferece, as nuvens tomaram liberdade de permanecerem em descanso sobre o seu grandioso leito. Em noite de lua cheia voo sobre os céus e sento-me no grande círculo dos feitiços nocturnos. Daqui, torna-se curioso perceber o verdadeiro significado de Kepéla; este é cada vez mais rigoroso, não serão apenas rios – e a devida distância entre as margens -, daqui denotam-se oceanos de distâncias, horizontes inalcançáveis; ou associarei Kepéla às minhas eternas barreiras, a amistosa barreira que me separa da terra onde tantos ficam, cada vês mais se escondem nas barreiras grandiosas. Vamos todos perdendo o rasto de nós, não é verdade? Tão longe e tão perto… Preferia claramente que as barreiras fossem obras muito mais tardias, ficassem para os tempos em que as distâncias fossem realmente grandes! Pedras que se movem através de um trabalho árduo dos nossos braços. E realmente magoa-nos os corações!

M.M.

"O amor de alguém é um presente tão inesperado e tão pouco merecido que devemos espantar-nos que não no-lo retirem mais cedo. Não estou inquieto por aqueles que ainda não conheces, ao encontro de quem vais e que porventura te esperam: aquele que eles vão conhecer será diferente daquele que eu julguei conhecer e creio amar. Não se possui ninguém (mesmo os que pecam não o conseguem) e, sendo a arte a única forma de posse verdadeira, o que importa é recriar um ser e não prendê-lo. Gherardo, não te enganes sobre as minha lágrimas: vale mais que os que amamos partam quando ainda conseguimos chorá-los. Se ficasses, talvez a tua presença, ao sobrepor-se-lhe, enfraquecesse a imagem que me importa conservar dela. Tal como as tuas vestes não são mais que o invólucro do teu corpo, assim tu também não és mais para mim do que o invólucro de um outro que extraí de ti e que te vai sobreviver. Gherardo, tu és agora mais belo que tu mesmo. Só se possuem eternamente os amigos de quem nos separamos."
Marguerite Yourcenar, in "Sistina"

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